quarta-feira, 30 de abril de 2014

Guitarrista celebrada pelos mais renomados bluesmen, chega, enfim, Ana Popovic

Música é uma das atrações Samsung Galaxy Best of Blues Festival, que acontece em maio

Jotabê Medeiros - O Estado de S. Paulo


A grande esperança do blues é mulher. E é bonita. E é branca. E é sérvia. Seu nome é Ana Popovic, e ela barbariza tanto com sua Fender Stratocaster 1964 quanto com seus vestidos curtíssimos e sua pose de modelo de propaganda de xampu.

Estrela do Samsung Galaxy Best of Blues Festival, no WTC Golden Hall, em São Paulo, nos dias 9, 10 e 11, ao lado de nomes como Jeff Beck, Buddy Guy, Joss Stone, Jonny Lang e Trombone Shorty, Ana é a loira eletrificada do novo blues. Pela primeira vez no Brasil para tocar (ela conta que já veio antes como turista para conhecer os carnavais de Salvador e Rio de Janeiro, e ficou três semanas), a guitarrista é a grande sensação dos festivais norte-americanos. Este ano, foi a única mulher convidada para a 8.ª edição do Experience Hendrix Tour – os outros eram Buddy Guy, Eric Johnson, Zakk Wilde, Bootsy Collins, Dweezil Zappa, David Hidalgo (dos Los Lobos), além do baixista Billy Cox (que tocou com Hendrix) e do baterista Chris Layton (que acompanhou Stevie Ray Vaughan).

Nos grandes festivais, ela lota as tendas – como sucedeu no ano passado no JazzFest de New Orleans. "Quando eu tinha dois anos, o blues me conquistou. Meu pai tinha uma grande coleção de discos e, desde que me lembro, sempre gostei do gênero. O blues é parte do que eu sou. Não sou americana, mantenho o meu toque europeu. E não uso botas nem chapéu, vou a discotecas dançar com meus amigos. Mas, tirando isso, todo o resto é o mesmo: eu toco a guitarra do blues, eu amo o mainstream do blues", disse a cantora ao Estado, anteontem, falando por telefone de sua casa, em Memphis, Tennessee.



Aos 37 anos, mãe de dois filhos, Ana Popovic contraria totalmente o estereótipo do blues sulista norte-americano, embora esteja totalmente ambientada ali. "Você não precisa ter nascido nos Estados Unidos para tocar blues. Há bluesmen em todo lugar, e fãs de blues em todo lugar. Eu cresci ouvindo Elmore James, Robert Johnson, Steve Ray Vaughan, Robert Cray, John Scoffield, Bukka White e também as bandas de rock, como Cream e Led Zeppelin. Claro, ouvi também o jazz europeu, Django Reinhardt e os outros. Mas, geralmente, eram artistas americanos, o Delta blues, o Texas blues, o rock sulista", ela lembra.

Ana é divertidíssima. Desafiada a relacionar todas as guitarras que tem, ela contabiliza seis ou sete instrumentos – a famosa Strato 1964, mais uma Telecaster 1971, mais uma peça vintage de 1957. "Não sou uma colecionadora de guitarras, tenho algumas boas para a estrada e outras para o estúdio. Sempre preferi sapatos", brinca.

Os guitarristas hendrixianos, entretanto, prestam muito mais atenção ao seu estilo do que aos seus sapatos. Vinte deles a "adotaram" na recente turnê Experience Hendrix, especialmente por conta de sua ousadia "old school" - expressa no álbum mais recente, Can You Stand the Heat?, produzido por Tony Coleman, baterista de B.B. King. "Fiz algo diferente porque eu gosto mais das canções meio desconhecidas de Hendrix, aquelas que não se tornaram hits. Sou um tipo meio lado B. Hendrix é um dos melhores ainda hoje. Adoro a energia dele, especialmente do seu trio", ela conta. Entre as canções que ela toca, estão House Burning Down, Belly Button Window e Can You See Me?

Ela nasceu em Belgrado e morou muitos anos em Amsterdã (onde sua família ainda tem residência), quando foi descoberta pelos americanos por conta do disco Comfort to the Soul, que lhe valeu uma indicação para o WC Handy Blues Awards como artista revelação. Agora, mudou-se de mala e cuia para o coração de Memphis.

"Eu vim a Memphis há dez anos, indicada por um selo para gravar um disco de blues (Comfort to the Soul). Conheci as pessoas na cidade, a gravação foi com uma banda fantástica. Os músicos daqui tocam divinamente. É um lugar bacana, o tempo é bom, minha banda vive por aqui. Eu já tinha vivido em New Orleans e Los Angeles, mas era muito conveniente fixar residência em Memphis". Para seu primeiro show na América Latina, ela promete uma fusão de blues, soul, funk e rock no festival, e quer muito conhecer os bluesmen brasileiros.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Reflexos da ditadura na educação impedem país de avançar

Em audiência na Câmara, especialistas pontuaram as heranças do período autoritário que impactam na má qualidade do ensino público e no acesso à educação.

Najla Passos
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Brasília - Os reflexos da ditadura civil militar sobre a educação foram tão nocivos e profundos que até hoje, 30 anos após o início da redemocratização, impedem o país de alavancar a qualidade e democratizar o acesso a este que deveria ser um direito fundamental de todo brasileiro.  Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Câmara, nesta quinta (24), especialistas foram unânimes em apontar as heranças do regime como principais responsáveis pela má qualidade da educação pública e pela vergonhosa falta de acesso a ela para os pelo menos 14 milhões de analfabetos, além de número maior ainda de analfabetos funcionais.

Presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti lembrou que a ditadura pôs fim ao ambiente de otimismo pedagógico dos educadores brasileiros com o avanço da educação popular e emancipatória já nos primeiros dias após o golpe. Em 14 de abril de 1964, um dia antes do general Castelo Branco assumir o posto de ditador, foi extinto o Programa Nacional de Alfabetização, que vinha sendo implantado no país pelo educador Paulo Freire e seria inaugurado oficialmente em maio. Segundo ele, não foi nenhum rompante do regime. A decisão já havia sido tomada um ano antes, quando Castelo Branco ouvira Paulo Freire em um evento no interior paulista. “Vocês estão engordando cobras”, teria diagnosticado o futuro ditador.

Na sequência, vieram as reformas educacionais que arrasaram com o modelo de educação brasileira. O presidente do Instituto narrou que, em 10 de junho de 64, na primeira reunião com secretários de educação, Castelo disse textualmente: o objetivo do meu governo é estabelecer a ordem entre trabalhadores, estudantes e militar.  E seu ministro Suplicy completou: estudante deve estudar, professor deve ensinar, e não fazer política. “Aí está o programa da ditadura: uma visão autoritária da educação e uma visão tecnicista que ainda permanece, suavizada, sem a ostentação e arrogância daquele período”, avaliou.

Gardotti ressaltou também a introdução do caráter mercantilista da educação, trazido dos Estados Unidos, que a transforma em negócio, ao invés de direito. “Havia uma lógica de privatizar”, denuncia. Ele criticou a reforma universitária, que promoveu a “departamentalização”, apontada como estratégia para fragmentar o conhecimento. E também a forma autoritária como eram impostos os diretores, selecionados não pelo desempenho acadêmico, mas pelo perfil gerencial. “A reforma universitária visava reformar para desmobilizar”, resumiu.

Sobraram críticas também à reforma do ensino básico, feita de modo a impedir o crescimento intelectual dos alunos. “A reforma da educação básica tem coisas hilárias, como dizer que todo mundo tem que se profissionalizar porque Jesus Cristo foi carpinteiro”, exemplificou. Segundo ele, em uma época que até o Banco Mundial preconizava que os trabalhadores tinham que ter uma formação generalista, a ditadura obrigou todas as escolas de ensino médio a introduzir a formação técnica compulsório, sem nenhum preparo para isso, e o resultado foi um fracasso.

Outro fracasso registrado foi o do Mobral, criado para alfabetizar jovens e adultos e extinto no governo Sarney. Em quase 20 anos, o programa, que prometia acabar com o analfabetismo em 10, conseguir reduzir a taxa apenas de 33% para 25%. “O Mobral alfabetizou muito pouco. E era muito mais fácil do que hoje, porque esses 8% residual que temos agora está no campo e em locais de difícil acesso”, analisou.

No inventário dos prejuízos causados pela ditadura à educação brasileira, ele incluiu também o desmantelamento dos vários movimentos sociais e populares, a eliminação da representação estudantil e a perda da capacidade dos educadores de influir nos rumos da educação. Para ele, é preciso mudar a concepção da educação. “Nós temos que formar professores a partir de uma outra ótica, de uma outra concepção de educação que respeite o saber das pessoas, que introduza o diálogo, o respeito, e vença aquilo que é o mais duro do que foi herdado da ditadura: a falta de democracia”, diagnosticou.

Como exemplo, ele citou o quanto ainda é difícil implantar um conselho de escola ou mesmo difícil discutir política na escola, o que considera salutar para o país.
 
“Estamos formando gerações sem discutir que país queremos”, afirmou. Gardotti lembrou que Paulo Freire já dizia que educar é politizar sim. “Não podemos formar estudantes na velha teoria do capital humano: estude, trabalhe e ganhe dinheiro. Paulo Freire respondeu claramente a esta teoria na época: a educação que não é emancipadora faz com que o oprimido queira se transformar em opressor”, concluiu.

O sociólogo e colunista da Carta Maior, Emir Sader, lembrou que o arrocho salarial foi tão importante para a sustentação da ditadura quanto a repressão sistemática, o que acabou comprometendo a qualidade dos serviços públicos, inclusive a educação. “O santo do chamado “milagre econômico” foi o arrocho salarial”, afirmou. Segundo ele, até então, a escola pública era um espaço de convivência entre a classe pobre e a classe média, um espaço de socialização. “A classe média, a partir daquele momento, passou a se bandear para escola particular, fazendo um esforço enorme, colocando no orçamento os gastos de escola e deixando a escola pública como um fenômeno social de pobre”, observou.

O sociólogo avalia que a ruptura causada foi tão significativa que a escola pública, até hoje, não recuperou seu vigor. “A democratização não significou a democratização do sistema educacional, não significou a recuperação da educação pública, da saúde pública. Isso está sendo feita a duras penas na última década, mas com uma herança acumulada brutal. Já tem reflexos no ensino universitário, mas não em toda a educação: a escola pública nós perdemos”, ressaltou.

Para ele, os investimentos em educação superior são importantes, mas é a reconquista da qualidade da educação primária e média que deve ser tema fundamental e urgente à democracia brasileira. “Estamos muito atrasados. Até a saúde pública, apesar do viés duríssimo da perda da CPMF, nós conseguimos melhorar agora com o programa Mais Médicos. Mas a educação, não. A estrutura de poder herdada da ditadura só se consolidou, inclusive a da educação privada”, observou Sader, lembrando que os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso aprofundaram ainda mais o processo de privatização deflagrado pelos militares.

Sadir Dal Rosso, professor da Universidade de Brasília (UnB), uma das mais afetadas pelo golpe civil militar, submetida a três intervenções, abordou o impacto da ditadura na universidade e na construção do pensamento brasileiro. Segundo ele, o controle das administrações universitárias, a demissão e expurgos de professores que não concordavam com o regime, os assassinatos de estudantes, o controle das organizações estudantis e a implantação de serviços de informação no meio acadêmico causaram prejuízos imensuráveis ao país, que ainda precisam ser investigados e punidos. “É necessário esclarecer a verdade e, neste sentido, é necessário rever a Lei da Anistia”, defendeu.


Créditos da foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A morte da imaginação

Especialistas em informática previram que, num futuro não muito distante, chips serão implantados no corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem a máquinas.


Jacques Gruman

Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em fotografias. Deve ser um conluio com os dentistas. (Nora Tausz Rónai)
 
Reza uma antiga lenda que dois reinos estavam em guerra. Os perdedores acabaram condenados ao confinamento do outro lado dos espelhos, um primitivo mundo virtual em que eram obrigados a reproduzir tudo o que os vencedores faziam. A luta dos derrotados passava a ser como escapar daquela prisão. O genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa para criar, na década de 1940, O mundo do espelho, para mim uma das mais aterrorizantes histórias do Mandrake. Espelhos foram, aliás, protagonistas de algumas sequências cinematográficas assustadoras. Bóris Karloff, um clássico do gênero, aproveitou muito bem o medo, que desde crianças carregamos, de que nossos reflexos nos espelhos ganhem autonomia. Ui! Já imaginaram se isso virasse realidade? Teríamos que conviver com nossos opostos, um estranhamento no mínimo desconfortável. Os quadrinhos exploraram o assunto também na série do Mundo bizarro, do Super-Homem. Era um nonsense pouco habitual no universo previsível dos super-heróis.
 
Estava pensando nos estranhamentos do mundo moderno quando me deparei com uma pequena nota de jornal. Encenava-se a ópera Carmen, de Bizet, no Theatro Municipal do Rio. Suponho que a plateia, que pagou caro, estava mergulhada na história e na interpretação da orquestra e dos solistas. Não é que um cidadão saca seu iPad e passa um tempão checando os e-mails, dedinhos nervosos para cima e para baixo, com a tela iluminando a penumbra indispensável para a fruição plena do espetáculo? Como esse tipo de desrespeito está entrando na “normalidade”, apenas uma pessoa esboçou reação. Uma espécie de angústia semelhante à incontinência urinária se espalha como praga nas relações pessoais e no uso dos espaços público e privado. Tudo passou a ser urgente. Todos os torpedos, e-mails e chamadas no celular viraram prioridade, casos de vida ou morte. Interrompem-se conversas para olhar telinhas e telonas, desrespeitando interlocutores. Como este tipo de patologia tende a se diversificar, já há gente que conversa (?) e olha o computador ao mesmo tempo, como aqueles lagartos esquisitos cujos olhos se movimentam sem aparente coordenação. Outros participam de reuniões sem desligar sua tralha eletrônica (na verdade, não estão nas reuniões). Especialistas em informática previram que, num futuro não muito distante, chips serão implantados no corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem a máquinas. A vida é controlada à distância e por outros.
 
Outro estranhamento vem da inundação de imagens, aflição que chamo de galeria dos sem imaginação. Enxurradas de fotos invadem o espaço virtual, a enorme maioria delas sem o menor significado e perfeitamente descartáveis. O Instagram recebe 60 milhões de fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por segundo! Fico pensando no sorriso irônico ou, quem sabe, no horror em estado bruto, que Cartier-Bresson esboçaria se esbarrasse nisso. Ele, que procurava a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se desdobrava em surpresas, nos reflexos impensados, jamais empilharia a coleção de sorrisos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics.
 
Essa história dos sorrisos foi muito bem notada pela Nora Rónai, que citei logo no início. Vivemos a era das aparências. Com a multiplicação das imagens, vem a obrigação de “estar bem”. Afinal de contas, quem vai querer se exibir no Facebook ou nas trocas de mensagens com uma ponta de melancolia ou, pelo menos, um suspiro de realidade? O mundinho virtual exige estado de êxtase permanente. Uma persona que não passa de ilusão. Criatividade não quer dizer tristeza, claro, mas certamente precisa incorporá-la como tijolo construtor da nossa personalidade. O resto é fofoca. Eric Nepomuceno, tradutor e escritor, fez o seguinte comentário sobre seu amigo Gabriel Garcia Márquez, que acabara de morrer: “Tudo o que ele escreveu é revelador da infinita capacidade de poesia contida na vida humana. O eixo, porém, foi sempre o mesmo, ao redor do qual giramos todos: a solidão e a esperança perene de encontrar antídotos contra essa condenação”. Nada que essas maquininhas onipresentes possam registrar, elas que jamais entenderiam a fina ironia de Fernando Pessoa no Poema em linha reta, que começa assim: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. Mais adiante: “Arre, estou farto de semideuses. Onde é que há gente nesse mundo ?”.
 
A praga narcísica desembarcou nas camas. Leio que nova moda é fazer selfies depois do sexo. O casal transa, mas isso não basta. É urgente compartilhar! Tira-se uma foto da aparência de ambos, coloca-se no Instagram e ... pronto. O mundo inteiro será testemunha de um momento íntimo, talvez o mais íntimo de todos. Meu estranhamento vai ao paroxismo. É a esse mundo que pertenço? Antigamente, era costume dizer que o que não aparecia na televisão não existia. Atualizando a frase: pelo visto, o que não está na rede não existe. É a universalização do movimento apenas muscular, sem sentido, leviano, rapidamente perecível.
 

Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gelman passou um bom tempo sem conseguir escrever. A inspiração não vinha. Disse ele: “A poesia é uma senhora que nos visita ou não. Convocá-la é uma impertinência inútil. Durante uns bons quatro anos, o choque do exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. Quando, finalmente, a senhora chega, tudo muda, como narra o poeta: “A visita é como uma obsessão. Uma espécie de ruído junto ao ouvido. Escrevo para entender o que está acontecendo”. Não consigo imaginar uma serenidade como essa no mundo virtual. Tudo nasce e morre antes de ser completamente absorvido. Cada novidade passa a ser vital, filas se formam nas madrugadas nas portas de lojas que começam a vender modelos mais avançados de produtos eletrônicos. Não dá pra esperar um dia, muito menos uma hora. O silêncio e a introspecção são guerrilheiros no habitat plugado. Estou me alistando neste exército de Brancaleone. 

domingo, 27 de abril de 2014

Nada de TV e internet no quarto?

Jairo Bouer
Televisão ou internet no quarto é tudo o que seu filho quer na vida, mas novas evidências têm demonstrado que essa pode ser uma péssima ideia para a saúde dele. Pesquisa da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, publicada no jornal inglês Daily Mail da semana passada, mostra que, para cada hora de televisão a que as crianças assistem por dia, elas perdem sete minutos de sono.


O estudo avaliou 1.800 crianças entre 6 meses e 8 anos. Quem tinha TV no quarto dormia menos. Os garotos parecem ser ainda mais sensíveis à presença da tecnologia perto da cama. A avaliação faz parte de um projeto (Project Viva), que acompanhou crianças de seu nascimento até 8 anos de idade para tentar determinar quais os fatores que podem influenciar seu desenvolvimento.
O trabalho foi um dos poucos que observaram o comportamento das crianças por um longo período de tempo, e o resultado mostra que tanto assistir a muita TV como ter uma televisão no quarto podem diminuir o tempo de sono em uma fase da vida em que dormir pelo menos oito horas é fundamental para a saúde. Algumas pesquisas recentes relacionam, por exemplo, menos horas de sono com um maior risco de obesidade em crianças e jovens.
Além disso, dormir menos pode piorar a concentração, a atenção, a memória e o rendimento em um momento em que as células nervosas estão se desenvolvendo em um ritmo acelerado e vão determinar nosso funcionamento intelectual e psíquico.
Não foi à toa que, há duas semanas, por exemplo, em Manchester, no Reino Unido, na Conferência Anual da Associação de Professores, noticiada pelo jornal Evening Standard, foi discutido o impacto que o uso dos tablets, celulares inteligentes e computadores, durante a noite, estão tendo no desempenho dos alunos em sala de aula.
Professores estão percebendo, cada vez mais, jovens sonolentos, irritados e com dificuldade de concentração após passarem noites em claro ou com poucas horas de sono por causa do uso excessivo de tecnologia, principalmente quando eles estão sozinhos, o que acontece com frequência em seus quartos à noite.
Redes sociais, serviços de troca instantânea de mensagens e jogos online seriam os principais "vilões" dessa história. Mesmo proibidos pelos pais de acessar a internet à noite, os jovens conseguem facilmente driblar esse controle graças, principalmente, aos dispositivos móveis e portáteis, como os smartphones.
Alguns desses professores, preocupados com essa queda de rendimento dos alunos na escola, e com medo do risco de dependência dos jovens à internet, sugeriram que os pais deveriam desligar o Wi-Fi de suas casas à noite, o que dificultaria o acesso das crianças.
Do ponto de vista da saúde, uma série de estudos tem demonstrado que tanto a radiação emitida pelas telas de celular e computador como a excitação psíquica provocada pelos jogos e papos online podem dificultar que o jovem "pegue" no sono. Além disso, há um problema crescente em desligar esses aplicativos no meio de uma conversa com amigos, de uma paquera ou de uma etapa eletrizante de um game, porque no dia seguinte existe trabalho ou escola.
Na semana passada, também, outra pesquisa mostrou mais um possível impacto negativo da internet, dessa vez principalmente em garotas. Realizado em universidades americanas e inglesas, o estudo sugeriu que as meninas que passam mais tempo nas redes sociais tenderiam a se comparar mais com amigas e conhecidas e teriam um risco maior de terem uma percepção negativa do seu corpo, da sua imagem e da sua aparência.
Talvez a principal conclusão de todos esses trabalhos seja que o uso das tecnologias precisa ser redimensionado, com urgência, na vida de muitos jovens.
* É PSIQUIATRA

sábado, 26 de abril de 2014

Bolsas de Estudo MEXT (Monbukagakusho)

O Governo Japonês através do Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia (MEXT) oferece seis tipos de bolsas de estudo para brasileiros em universidades japonesas.

As inscrições para as bolsas de Pesquisa, Graduação, Escola Técnica e Cursos Profissionalizantes ocorrem anualmente entre os meses de abril e junho, e as de Treinamento de Professores e Cultura e Língua Japonesa, no mês de janeiro e fevereiro.
Para mais informações clique na bolsa desejada:
Atenção: A Embaixada do Japão recebe inscrição somente dos candidatos residentes no Distrito Federal, e dos estados de Goiás e Tocantins. Os residentes nos demais Estados, deverão entrar em contato com o Consulado Geral do Japão de sua região

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Nação monoglota

O ensino de língua estrangeira no Brasil 
não ajuda a melhorar a baixa proficiência dos alunos

por Thais Paiva e Tory Oliveira 
Veronica Manevy
ensino de inglês
Alunos reclamam o conteúdo ultrapassado e aulas baseadas em tradução. Segundo Gretel, o professor acaba preso ao molde tradicional
Ver e rever o verbo to be. É assim que a estudante de construção civil, Mayara Ferreira, de 21 anos, define as aulas de inglês que teve durante o Ensino Fundamental e Médio, ambos cursados na rede pública. A estudante começou a ter aulas da língua estrangeira no sexto ano, mas a ausência de uma metodologia adequada e professores qualificados colaborou para que ela se formasse apenas com uma vaga noção do idioma. Entre suas principais queixas: a mesmice dos conteúdos, aulas baseadas na tradução e professores que pareciam não ligar para a evolução dos alunos. “Sempre gostei de estudar, mas as aulas de inglês não tinham credibilidade, era uma bagunça. No Ensino Médio, era comum os alunos saírem da sala quando ia ter  aula. A gente pensava “não vamos aprender nada mesmo, vai ser verbo to be de novo”.
O desinteresse não acontece apenas na escola pública. Aluno do primeiro ano do Ensino Médio, Felipe Pessanha, de 15 anos, sempre estudou em escolas particulares em Belo Horizonte. Ele conta que adquiriu mais conhecimento sobre a língua inglesa sozinho do que na escola: “As aulas serviam só para aprender o básico e, mesmo assim, muitos alunos saiam sem entender nada. Quem quisesse realmente aprender alguma coisa tinha de procurar um curso ou pesquisar sozinho”.
A dificuldade em aprender inglês enfrentada por Mayara e Felipe compõe um cenário muito mais amplo e preocupante no Brasil. Segundo o estudo publicado em agosto de 2012 pela British Council, ONG do Reino Unido para oportunidades educacionais e culturais no Brasil, apenas 5% da população brasileira pode ser considerada fluente na língua.
A baixa desenvoltura dos brasileiros também foi comprovada pelo EPI 2012 – Índice de Proficiência em Inglês, realizado pela EF Education First, escola especializada no ensino de idiomas e intercâmbios, que avaliou a gramática, vocabulário, leitura e compreensão de 1,7 milhão de adultos de 54 países.
O Brasil figurou na 46ª posição do ranking com uma avaliação de proficiência muito baixa, caindo 15 posições em relação ao último estudo, de 2011. “Um falante com proficiência muito baixa é capaz de se comunicar de forma simples, entender frases isoladas contendo informações rotineiras, mas não consegue desenvolver uma conversa ou discorrer sobre assuntos mais complexos”, explica Luciano Timm, diretor de marketing da EF no Brasil e porta-voz do EPI.
A deficiência do aluno brasileiro em língua estrangeira também salta aos olhos quando se observa a distribuição geográfica dos bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras: Portugal é o segundo destino mais visado, atrás apenas dos Estados Unidos. Mais do que a quantidade e excelência das universidades portuguesas, a falta de domínio de um segundo idioma ajuda a explicar a preferência dos estudantes brasileiros.
Por esse motivo, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, declarou em abril que Portugal não estará mais entre as opções de destino. Provisória, a medida já vale para os editais abertos neste semestre e tem como objetivo estimular o aprendizado de outras línguas.
Criado em 2011 pelo governo federal, o Ciência sem Fronteiras oferece bolsas de estudo para alunos de graduação, pós-graduação e pesquisadores de áreas estratégicas (como ciências exatas e engenharia) em universidades estrangeiras. Ao menos 38 países fazem parte do leque de opções universitárias, mas a barreira linguística acaba se tornando um impeditivo, já que é necessário comprovar um nível mínimo de proficiência para pleitear a bolsa. “É vergonhoso. Todo mundo só quer ir a Portugal, fica uma pobreza de demanda em termos de divulgação da pesquisa no Brasil”, lamenta Fernanda Liberali, professora do departamento de Inglês e do programa de pós-graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC-SP.
Prestes a receber eventos esportivos internacionais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o Brasil sente ainda mais a necessidade de falar outra língua diante do grande número de turistas que passarão pelo País. A Wise Up, patrocinadora oficial da Copa, avaliará o inglês dos voluntários, que receberão as oportunidades de trabalho de acordo com seu nível de inglês.
A baixa proficiência do brasileiro também impacta a competitividade econômica. No estudo do EPI, o Brasil apresentou o pior desempenho entre os membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e, de acordo com uma pesquisa realizada pela Catho, empresa especializada em Recursos Humanos, apenas 8% dos executivos brasileiros são capazes de falar e escrever em inglês de forma fluente; 24% têm dificuldades em compreender ou se comunicar em inglês.
“Uma competência linguística limitada tem um impacto bastante negativo tanto no desenvolvimento profissional de cada indivíduo quanto também no crescimento do País. Oportunidades de negócios podem ser perdidas, relações profissionais podem ser prejudicadas e a falta de independência é maximizada”, explica Vinícius Nobre, gerente do departamento acadêmico da Cultura Inglesa.
Falta de preparo e desvalorização
As raízes da falta de domínio do estudante brasileiro podem ser encontradas na formação do professor e no espaço reservado à disciplina na grade curricular. O inglês, e mais recentemente o espanhol, amargam há tempos a condição de patinho feio da grade curricular da escola. Só a partir de 2010, por exemplo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a cobrar questões específicas de inglês ou espanhol na prova. Os materiais didáticos também só passaram por uma avaliação do MEC nos últimos anos, a partir da inclusão no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
Em geral, a carga horária de língua estrangeira é reduzida: uma aula por semana ou, rara exceção, duas. “Há salas com 50 alunos. Isso é uma realidade em todas as disciplinas, mas em língua estrangeira é improdutivo”, analisa Gretel Eres Fernández, da Faculdade de Educação da USP e consultora das Orientações Curriculares de Espanhol para o Ensino Médio.
Desvalorizada historicamente dentro da escola, apesar da crescente demanda do mercado e da Academia, a língua estrangeira ensinada na escola ainda é cercada de mitos. “Os alunos já acham que o inglês não se aprende na escola, os outros professores acham que o professor de inglês só ensina o verbo to be, se uma disciplina precisa ser retirada do horário, sempre é o inglês”, elenca Sirlene Aparecida Aarão, professora em escolas particulares do Ensino Médio e autora de materiais didáticos da disciplina. “Os próprios coordenadores muitas vezes não sabem a língua e não têm condições de avaliar se o nível do profissional é ou não adequado”, afirma Fernanda Liberali.
Embora seja uma área considerada prioritária pelo governo, o número de matrículas nos cursos de licenciatura está em queda. O desinteresse pela docência também atinge aqueles voltados para o ensino de línguas. Tal situação tem causado o fechamento de cursos de Letras por falta de alunos e em alguns estados faltam professores. Os cursos também enfrentam o ingresso de estudantes sem domínio anterior da língua estrangeira. Lucilene Fonseca, doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP, trabalhou em cursos de formação de professores e relata o despreparo dos futuros docentes: “Eles têm medo de falar a língua, pois não têm fluência e segurança, e isso se reflete nas aulas de idiomas nas escolas, que se tornam completamente enfadonhas para o aluno”.
A graduação deveria ser o momento para o professor aprofundar e discutir questões linguísticas e de ensino em profundidade, porém, como ele ingressa sem conhecimentos, é no curso que ele vai aprender o idioma”, afirma Gretel. O problema é que o tempo reservado para aprender a língua é reduzido: em média, os cursos de espanhol dedicam 400 horas para língua estrangeira, exemplo que pode ser estendido para os demais idiomas.
O despreparo do professor limita sua atuação em sala de aula e desestimula os alunos. “Hoje, a língua inglesa não é utilizada como base da comunicação em sala de aula. O professor e os alunos se comunicam em português e apenas falam sobre o idioma, mas analisar a língua não leva à fluência e sim às práticas comunicativas do dia a dia. Esse modelo baseado na tradução é prejudicial, pois o aluno fica sem a vivência do idioma”, explica Renata Quirino de Souza, consultora de Educação e integrante do projeto Pacto pela Alfabetização na Idade Certa.
A falta de identidade da disciplina e de uma política nacional capaz de articulá-la também é apontada como entrave para aulas de idiomas mais eficientes. Nas grandes escolas particulares, por exemplo, a abordagem costuma ser irregular ao longo do Ensino Médio. “Até o segundo ano, o aluno estudava com livros importados e era dividido por nível de proficiência. No terceiro ano muda o enfoque para a leitura, por causa do vestibular”, conta Sirlene.
A inexistência de uma política nacional e estadual para o ensino de línguas no Brasil, segundo Gretel, deixa o professor perdido: “Não sabemos o que pretendemos ensinar para o estudante. Hoje estamos caminhando sem rumo”.
Para Vinícius Nobre, da Cultura Inglesa, o ensino da língua no País ainda é muito desvalorizado e tem como grande obstáculo a falta de um órgão legislador que garanta a qualidade dos serviços prestados pelas escolas particulares e profissionais do ensino de inglês. “Temos inúmeros exemplos, nas iniciativas privada e pública, de práticas que não preenchem os requisitos básicos para o ensino eficiente de um idioma estrangeiro. Vivemos em uma realidade onde professores são contratados sem qualificação, treinamento, registro e com salários pouco atraentes”, aponta.
Há ainda os riscos de um mercado com apelo comercial muito forte que faz promessas infundadas sobre a aquisição de outra língua com o objetivo de vender cursos. “Há a combinação de uma educação carente nos ensinos Fundamental e Médio com profissionais e empresas despreparados no universo dos cursos livres. Esse quadro só vai melhorar quando a educação for valorizada e o ensino de inglês for reconhecido como ciência”, na opinião de Nobre.
Apesar dos entraves, os especialistas concordam que é possível aprender inglês dentro da escola regular. “A questão é como a aula será oferecida. O aluno não vai se interessar por uma aula tradicional, em que não é possível estabelecer relações entre ela e os usos da língua no cotidiano”, analisa Gretel. Com a formação deficiente ou sem tempo hábil disponível, o professor acaba preso ao modelo tradicional. A especialista aponta algumas boas iniciativas na rede pública dos estados de São Paulo, do Paraná e no Distrito Federal. O princípio é o mesmo: centros vinculados às escolas públicas ensinam idiomas estrangeiros gratuitamente para os alunos no contraturno.
Para amenizar o cenário no curto prazo, Gretel cita algumas medidas emergenciais: contratação de mais professores, ampliação da carga horária da disciplina, modificações na prova de língua estrangeira do Enem (como o aumento no número de perguntas e incorporação da oralidade) e mudanças nas aulas oferecidas no Ensino Médio. Além disso, desenvolver com os alunos atividades mais ligadas ao seu cotidiano como análise de filmes e pesquisas sobre assuntos que os interessam pode auxiliar o processo de aprendizagem. “Os alunos conseguem compreender melhor aquilo que estão lendo ou vendo quando possuem interesse no assunto”, diz a consultora Renata Quirino, que também aposta em uma metodologia que leve em conta não somente a língua, mas também a cultura e identidade de seus povos falantes.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Livro mostra como a quebra da Bolsa de NY fomentou a Depressão e o nazismo

Em '1929', Ivan Sant’Anna descreve como a Quinta-feira Negra alterou os rumos da história

Ubiratan Brasil - O Estado de S. Paulo
No dia 5 de setembro de 1929, o teórico econômico Roger Babson foi ridicularizado ao proferir um discurso sombrio: "Mais cedo ou mais tarde, o crash virá, e poderá ser tremendo", vaticinou. Babson falava sobre a bolsa de valores de Nova York, que vivia uma euforia jamais vista. Os Estados Unidos encerravam uma década dourada em clima de euforia e consumismo desenfreado. "O delírio era coletivo", comenta Ivan Sant’Anna, escritor, ex-dono de corretora e operador do mercado financeiro, autor de 1929 (Objetiva), emocionante relato sobre o crash da bolsa de Nova York, fato que alterou os rumos da história.
Wall Street durante a queda da bolsa - Divulgação
Divulgação
Wall Street durante a queda da bolsa
Naquele ano, acreditava-se no nascimento de uma sociedade em que todos poderiam ser ricos, pois bastava aplicar todas suas economias no mercado de ações. O sonho encantava celebridades, como Charles Chaplin e Irving Berlin, e cidadãos comuns como o engraxate Pat Bologna, que ganhava fama por seus palpites em ações baseados em conversas com clientes famosos.
Banqueiros, artistas, donas de casa, ninguém acreditava em perda. A armadilha, porém, se armava – destaque para as "chamadas de margens", possibilidade de comprar ações financiadas pagando uma fração do valor total e dando o próprio papel como garantia.
Quando as ações estavam em alta, o mercado se sustentava. A queda, no entanto, obrigava o investidor a pagar ao credor o valor equivalente à perda. Ou era obrigado a vender o papel para saldar a dívida. Ou seja, milhões de dólares eram movimentados sem que realmente existissem.
Quando o castelo de ar começou a ruir, em outubro de 1929, a tragédia se escancarou. O índice Dow Jones, que avalia o mercado, registrou um pico e o mercado começou a sentir que uma queda se aproximava. O volume de negócios diminuiu até que, no dia 24, conhecido como a Quinta-Feira Negra, ocorreu a quebra. Milhares de pessoas perderam as economias, o desemprego aumentou e o pânico resultou em diversos suicídios. O mercado perdeu mais de US$ 30 bilhões em dois dias.
Em seu livro, Sant’Anna mostra como a quebra da bolsa deu origem à grande depressão e influenciou a ascensão do nazismo. Também narra casos curiosos, como o feeling de Chaplin que, percebendo o perigo iminente, vendeu suas ações em 1928 e escapou do prejuízo.
Por que a crise de 1929 foi a maior de todos os tempos?
Porque seguiu-se à maior febre especulativa dos tempos modernos. O mercado tornou-se irreal e, por isso, a queda foi gigantesca. Além disso, o Fed (Banco Central dos EUA) não tomou nenhuma medida para dar liquidez ao mercado após o crash e o presidente Herbert Hoover disse que a crise da bolsa era um problema privado e não dizia respeito ao governo. Em ocasiões posteriores, como no crash de 19 de outubro de 1987 e na crise do subprime (2008), o governo agiu rapidamente, dando liquidez ao mercado e repassando dinheiro a empresas como a General Motors, assim como salvando da falência as duas gigantes de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, sem contar que, após 1929, foi criada a SEC (reguladora encarregada de analisar a estrutura do mercado de ações). O mesmo aconteceu na Europa quando o Banco Central Europeu, o FMI e a Alemanha agiram para socorrer países como a Grécia, Irlanda, Itália, Espanha e Portugal. Hoje, todo mundo tem 1929 como espelho e ninguém deixa que as coisas tomem aquele rumo.
A crise de 1929 levou os EUA a um isolacionismo no momento em que as democracias ocidentais enfrentavam a ascensão das ditaduras fascistas. Ou seja, de alguma forma, a crise de 1929 retardou a entrada nos EUA na 2ª Guerra Mundial?
Se não houvesse o crash de 1929, dificilmente teríamos a ascensão de Hitler ao poder e o advento da Segunda Guerra Mundial. A febre especulativa causou o crash, o crash causou a Grande Depressão e a Grande Depressão provocou a Segunda Guerra. O protecionismo comercial generalizado que se sucedeu ao crash contribuiu para o isolacionismo americano e realmente retardou sua entrada na guerra, o que só aconteceu após o ataque a Pearl Harbor.
Também é possível afirmar que aos EUA foi necessário um século de erros – de 1830 até o crack da bolsa em 1929 – para que sua casa financeira fosse posta em ordem? Mas como explicar a recente crise de 2008?
O mercado tem memória curta e é movido por ganância e medo. A diferença agora é a maneira como as autoridades monetárias reagem às crises. Por isso a crise de 2008 foi apenas uma gripe se comparada ao câncer devastador de 1929. Aliás, o chairman do Fed em 2008, Ben Bernanke, é um especialista em 1929. Agiu rápido para estancar a hemorragia. Até hoje, as taxas de juros nos EUA estão próximas de zero. Pode haver inflação, mas um novo 1929 dificilmente acontecerá nas próximas gerações.
Por que você não cita o Brasil em sua obra?
O Brasil não teve papel relevante na crise de 1929. Sofreu apenas as consequências, com uma brutal diminuição das exportações de café. Em minhas pesquisas, não encontrei nenhum personagem brasileiro que se encaixasse na história.
1929
Autor: Ivan Sant’Anna
Editora: Objetiva (356 págs., R$ 44,90)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O futuro do nosso planeta depende de 58 pessoas

Em 13 de abril, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas publicou a última parte de um relatório em que alerta sobre o aquecimento global.

Roberto Savio (*)
Arquivo















Apesar de para muitos o seguinte fato ter passado despercebido, em 13 de abril, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou a terceira e última parte de um relatório em que, sem rodeios, alerta que temos apenas 15 anos para evitar ultrapassar um aquecimento global de no mínimo dois graus previstos. As consequências serão dramáticas.

Apenas os mais míopes não se dão conta do que isso significa: desde o aumento do nível do mar até furacões e tempestades mais frequentes, além de um impacto adverso na produção de alimentos.

Em um mundo normal e participativo, onde 83% das pessoas que vivem atualmente existirão dentro de 15 anos, tal relatório teria provocado uma reação dramática. Em contrapartida, não houve um só comentário por parte dos líderes dos 196 países onde habitam os 7.5 bilhões de “consumidores” do planeta.

Os antropólogos que estudam as semelhanças e diferenças entre os seres humanos e outros animais já chegaram à conclusão há um bom tempo de que a humanidade não é superior em todos os aspectos. Por exemplo, o ser humano é menos adaptável à sobrevivência que muitos animais em casos de terremotos, furacões e outros desastres naturais.  Mostram sinais de alerta e de mal-estar.

A primeira parte do documento do IPCC, publicado em setembro de 2013 em Estocolmo, estabeleceu que os humanos são a causa principal do aquecimento global. A segunda parte, lançada em Yokohama em 31 de março, afirmou que “nas últimas décadas, as mudanças climáticas causaram impactos nos sistemas naturais e humanos em todos os continentes e em todos os oceanos”.

O IPCC é composto por mais de dois mil cientistas de todo o mundo e esta é a primeira vez em que chegou a conclusões firmes desde sua criação pelas Nações Unidas em 1988. A principal conclusão é que, para parar esta locomotiva rumo a um caminho sem volta, as emissões globais precisam ser reduzidas entre 40% e 70% antes de 2050.

O relatório adverte que “apenas grandes mudanças institucionais e tecnológicas darão uma oportunidade maior que 50%” de o aquecimento global não ultrapassar o limite de segurança. Acrescenta ainda que as medidas precisam começar em 15 anos, sendo concluídas em 35.

Vale a pena ressaltar que dois terços da humanidade têm menos de 21 anos e, em grande medida, são os que precisarão suportar os enormes custos da luta contra a mudança climática.

A principal recomendação do IPCC é muito simples: as principais economias devem estabelecer um imposto sobre a poluição com dióxido de carbono, elevando o custo dos combustíveis fósseis para impulsionar o mercado de fontes limpas de energia, como a eólica, a solar ou a nuclear.

Dez países causam 70% do total de poluição mundial com gases de efeito estufa, enquanto os Estados Unidos e a China são responsáveis por 55% dessa magnitude. Os dois países estão tomando medidas sérias para combater a poluição.

O presidente norte-americano, Barack Obama, tentou, em vão, obter a permissão do Senado e precisou exercer sua autoridade com a Lei do Ar Limpo de 1970 para reduzir a poluição de carbono  de veículos e instalações industriais, estimulando tecnologias limpas. Entretanto, não pode fazer mais nada sem apoio do Senado.

O todo poderoso novo presidente da China, Xi Jinping, considera o meio ambiente uma prioridade, em parte porque fontes oficiais estimam em cinco milhões anuais o número de mortos em seu país pela poluição. Mas a China precisa de carbono para seu crescimento, e a postura de Xi é: “por que deveríamos frear nosso desenvolvimento, se os países ricos que criaram o atual problema querem que tomemos medidas que atrasem nosso crescimento?”.

E assim é criado um círculo vicioso. Os países do Sul querem que os países ricos financiem seus custos de redução da poluição e os do Norte querem que os demais deixem de poluir e assumam seus próprios custos.

Como resultado, o resumo do relatório, que está destinado aos governantes, não contém as premissas que poderiam dar a entender a necessidade de que o Sul faça mais, enquanto os países ricos pressionaram para evitar uma linguagem que pudesse ser interpretada como a obrigatoriedade de que eles assumam obrigações financeiras.

Isto deveria facilitar um brando compromisso na próxima Conferência das Nações Unidas sobre  Mudanças Climáticas de Lima, de onde se espera um novo acordo global (vale lembrar do desastre da conferência de Copenhague em 2009).

A chave de qualquer acordo está nas mãos dos Estados Unidos. O Congresso norte-americano bloqueou toda iniciativa sobre o controle climático, proporcionando uma saída fácil para China, Índia e para o resto dos poluidores: “por que devemos assumir compromissos e sacrifícios, se os Estados Unidos não participam?”.

O problema é que os republicanos transformaram as mudanças climáticas em uma de suas bandeiras de identificação. Na última vez em que se propôs um imposto ao carbono, em 2009, depois de um voto positivo na Câmara de Representantes, controlada pelos democratas, o Senado, dominado pelos republicanos, rejeitou a proposta. Nas eleições de 2010, uma série de políticos que votou a favor do imposto ao carbono perderam suas cadeiras, o que contribuiu para que os republicanos assumissem o controle da Câmara.

Agora, a única esperança para os que querem uma mudança é aguardar as eleições de 2016 e esperar que o novo presidente dos Estados Unidos seja capaz de mudar a situação. Este é um bom exemplo de por que os antigos gregos diziam que a esperança é a última deusa...

O quadro é muito simples. O Senado norte-americano está integrado por 100 membros, o que significa que bastam 51 votos para liquidar qualquer projeto de lei sobre um imposto aos combustíveis fósseis. Na China, a situação é diferente. Na melhor das hipóteses, as decisões são tomadas pelo Comitê Permanente do Comitê Central, formado por sete membros, que são o verdadeiro poder no Partido Comunista.

Em outras palavras, o futuro do nosso planeta é decidido por 58 em uma população mundial de quase 7.7 bilhões de habitantes.


(*) Roberto Savio é fundador e presidente emérito da IPS – Agência de notícias Inter Press Service e publisher do site Other News.


Tradução: Daniella Cambaúva

terça-feira, 22 de abril de 2014

Gente grande

por Taís Toti



Antigamente, muita gente poderia dizer que ela é ‘mais uma atriz da Disney’ou ‘a atriz e cantora que foi para a reabilitação’. Mas a Demi Lovato que chega ao Brasil para uma série de concertos é uma grande popstar. Em São Paulo, ela se apresenta no Citibank Hall, onde faz show na terça (22), e, com ingressos já esgotados, na quinta (24) e sexta (25).
O começo como atriz e cantora da Disney Channel, estrelando filmes como ‘Camp Rock’, colocou Demi no mesmo balaio de estrelas jovens como Miley Cyrus e Selena Gomez. Mas o namoro com Joe Jonas, do Jonas Brothers, e o tempo na reabilitação para se tratar de distúrbios alimentares e automutilação serviram para que sua imagem fosse desgastada pelos tabloides.
Meses depois, recuperada, ela deu a volta por cima. Se tornou ativista nas campanhas anti-bullying, e usou os problemas como inspiração para o álbum ‘Unbroken’, de 2011, que redefiniu seu som. A partir dele, Demi fortaleceu sua identidade, deixando de ser ‘mais uma artista mirim’.
Duas temporadas como jurada do reality show ‘The X Factor’ e pintar os cabelos de azul foram fatores que colaboraram para fortalecer (ou, ao menos, popularizar um pouco mais) a imagem da cantora americana. Mas foi o lançamento de ‘Demi’, em 2013, que provou seu amadurecimento.
A cantora se arrisca ao voltar a um som claramente pop, após buscar o R&B em ‘Unbroken’. O resultado não é redondo como o trabalho mais recente de Taylor Swift, mas mostra que ela tem potencial para ser colocada ao lado das grandes cantoras pop do momento.
‘Made in the USA’ é a perfeita canção radiofônica; ‘Really Don’t Care’ é animada e traz uma acertada participação de Cher Lloyd; ‘Neon Lights’ é dançante, e lembra um pouco Lady Gaga. E nem pense que ela não vai dar prioridade total ao novo disco na turnê brasileira. Pode esperar para ouvir ‘Heart Attack’ e muito mais de ‘Demi’.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Brasil sedia discussão sobre os rumos da internet e gestão da rede

Evento, que será realizado entre os dias 23 e 24 em São Paulo, atrai forte expectativa do mundo todo e tratará de governança e do fim da “supervisão” do governo americano sobre a rede
Por Murilo Roncolato
A menos de dois meses da Copa do Mundo, o Brasil recebe nesta semana personalidades de ao menos 95 países (quase o triplo do número de nações que disputarão o Mundial de futebol) para debater sobre os rumos da internet e os responsáveis pelo seu funcionamento.
A conferência internacional NETMundial, que acontece nos próximos dias 23 e 24 em São Paulo, vai tratar de governança da internet. O evento atrai forte expectativa do mundo todo, que enxerga nele o início de um processo de mudanças.
Mas mudar o que e para quê?
Por não ser “governada” por ninguém, o modelo de gestão da internet ganha o nome de “governança”. Isso porque são necessárias regras, padrões técnicos e um constante trabalho de atualização da estrutura para permitir que pessoas do mundo inteiro se comuniquem em uma única rede sem barreiras. Esse trabalho é feito por diversas instituições, sendo a principal a ICANN, sigla em inglês para Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números. Na NETmundial, o ICANN é o alvo de todo o debate.
“O que se espera é o fim da supervisão do Departamento de Comércio dos EUA sobre o ICANN e a IANA (entidade que atribui os “números” da internet, como os endereços de IP). É anacrônico que um recurso usado no mundo todo esteja submetido à chancela do governo americano”, diz Marília Maciel, coordenadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV e membro do comitê executivo da NETmundial, citando o braço da ICANN responsável pela gestão de números IP e endereços. “Hoje, os EUA poderiam impedir que nomes de dominío como .xxx (para sites de pornografia) fossem criados. Eles nunca abusaram, mas é incômodo que esse poder exista.”
Para o coordenador da NETmundial e secretário do Ministério de Ciência e Tecnologia, Virgílio Almeida, o fim da “supervisão” do governo americano sobre a ICANN é um pedido do governo brasileiro. “A globalização da ICANN e das funções da IANA é uma reivindicação global e do Brasil. Uma entidade privada da Califórnia não pode ficar resolvendo questões de países, como a disputa por nomes da internet”, diz.
MigraçãoO Departamento de Comércio dos EUA surpreendeu ao anunciar em março que pensa em não renovar seu contrato de supervisão das funções da IANA, que vence em setembro de 2015, passando tal função para uma organização multissetorial sob a coordenação da ICANN. A decisão foi comemorada e, para Almeida, fortalece a conferência. “A NETmundial tem que debater e prover sugestões para essa migração.”
Após o anúncio do governo americano surgiram reações internas contrárias, temendo que o fim do seu controle sobre a internet permitisse que países com histórico de restrição e censura online pudessem assumir as rédeas. Christian Whiton, um ex-assistente do Departamento de Estado do governo de George W. Bush, disse que a “administração americana da internet foi exemplar” e que não havia razão para “perdê-la”. “Essa atitude de Obama equivale à de Carter quando se desfez do Canal do Panamá, com a diferença de possíveis consequências ainda mais graves.”
O temor reflete um dos assuntos que poderiam ser debatidos na NETmundial: o controle da web deve ser debatido apenas entre países (tendência conhecida como multilateralismo), como na ONU, por meio da União Internacional de Telecomunicações (UIT), ou por grupos diversos que contemplem especialistas técnicos, acadêmicos, membros do setor privado, sociedade civil e também de governos (opção chamada de multissetorial)? O governo americano já adiantou que considerava “sábio” evitar debates controversos como esse.
O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), Carlos Affonso Souza, diz que o multilateralismo poderia ganhar força depois das revelações do ex-agente da NSA, Edward Snowden, projetando um cenário em que os países se fechariam para não serem espionados. Mas não foi bem assim. “A grande surpresa foi o fato de haver uma reafirmação do modelo multissetorial. Governos espionados como Brasil e Alemanha não tomaram as revelações como a gota d’água a ponto de se tornarem opositores de sistemas americanos como o ICANN.” A visita do diretor da ICANN, Fadi Chehadé, em outubro, à presidente Dilma Rousseff e a escolha do País para sediar a conferência desta semana não teriam sido por acaso.
Participante de reuniões da ICANN durante anos, Affonso pondera que os mecanismos de controle da internet estão nos EUA por razões históricas. Foi lá que se desenvolveu a (precursora da internet) ARPANet e o protocolo DNS e, por fim, a ICANN. “Além disso, a maioria dos serviços utilizados na internet hoje, como Google e Facebook, está lá e adota a lei americana sobre os contratos que celebram”, lembra. “É natural, com o uso difundido da internet, que o resto do mundo pedisse por participação.”
AberturaA própria instituição vem estudando formas de se abrir. Uma delas é a chamada ICANN Fellowship, na qual subsidia a ida de qualquer pessoa a suas reuniões. O ativista e publicitário João Carlos Caribé participou dos encontros da entidade na China, África do Sul e Cingapura dessa maneira. “O programa exige dedicação, não vá pensando que você vai para passear, as reuniões começam às 7h da manhã no domingo, mas permite a interação com diferentes interlocutores de diferentes setores da ICANN”, diz. “É sem dúvida a melhor porta de entrada.”
Para Marília Maciel, da Fundação Getúlio Vargas, apesar das ações da ICANN, as chances de participação de países pouco desenvolvidos são poucas, o que os mantêm à margem do debate. “Governança tem diversas camadas, é muito distribuída. A UNESCO trata de temas educacionais, a UIT desenvolve padrões de comunicação. Para países em desenvolvimento é complicado porque você precisa estar em diversas instituições e isso custa dinheiro”, diz Marília. “Veja o IETF (sigla em inglês para Força-Tarefa de Engenharia da Internet), onde engenheiros discutem protocolos técnicos. É possivel mexer no funcionamento da internet em vez de fazê-lo por regulação. É importante estar nesses espaços também.”
A NETmundial vai se arriscar em um modelo de reunião diferente, no qual as discussões principais são direcionadas por tema, mas o microfone estará “aberto”, à disposição de quem quiser entrar na conversa. “É uma discussão mais de baixo para cima”, diz Carlos Affonso. “O fato de ser microfone aberto fará com que a discussão vá por lugares não previstos.”

domingo, 20 de abril de 2014

Origem do Mangá

Por Fernando Rebouças




No período Nara, século VIII d.c, surgem os primeiros rolos de pintura japonesas, as tais pinturas eram conhecidas como emakimono, em seus conteúdos eram associados pinturas e textos que literalmente se desenrolavam. O primeiro emakimono foi entitulado de “Ingá Kyô”, cópia de obra chinesa.

No século XII, surgem emakimonos genuinamente no estilo japonês de estampas. Porém os mangás como lemos e conhecemos nos dias atuais, surgem no início do século XX; influência do formato dos gibis ocidentais, principalmente dos EUA. Na época surgiu o “Primeiro Soldado Norakuro” , criado por Tagawa Suiho. Nesta fase o governo japonês utilizou o quadrinhos para fins de propaganda.

Depois da Segunda Guerra Mundial, há uma explosão de produção em escala mundial de quadrinhos, dando espaço para a criação de publicações locais em regiões periféricas do Ocidente e em países orientais. Os desenhistas de manga são conhecidos como “mangakas”. O desenhista Osama Tezuka, sob influência de Walt Disney, desenvolve personagens com feições e expressões exageradas, personagens japoneses com olhos arregalados.

Em 1963, Tezuka em seu estúdio Mushi Production, cria a primeira série de animação para a televisão japonesa, o “Astro Boy”. O principal público do manga sempre foi as crianças e jovens, porém nesta época houve um trabalho em criar manga para adultos.

Outros desenhistas ficaram conhecidos, como Fujiko Fujio, criador de “Doramon, e Akatsuka Fujio, Reiji Matsumoto e Shotaro Ishinomori. No Brasil, tanto em tv quanto no formato livro, o manga mais elaborado se fez presente entre as décadas de 80 a 90 com boa popularidade, mas o “boom” no mercado nacional estourou nos anos 2000.