terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Recesso de Férias

Estamos em recesso de férias de 24/12/2014 a 10/01/2015. Até breve!!!


Morreu, aos 70 anos, Joe Cocker, lenda do blues e do rock

Nova York (AFP) - Joe Cocker, o lendário cantor britânico de blues e rock, intérprete de sucessos como "You Are So Beautiful", morreu aos 70 anos, informou seu agente nesta segunda-feira.

Por Cmais+ / AFP

Nascido em Sheffield, cidade industrial do norte da Inglaterra, Joe Cocker morreu na noite de domingo nos Estados Unidos. Ele foi, "sem dúvida, o maior cantor de rock e soul já saído da Grã-Bretanha", informou seu agente, Barrie Marshall, em um comunicado.
No Festival de Woodstock, 15 a 18 de agosto de 1969


Cocker ganhou fama nos anos 1960, graças à celebrada versão de "With a Little Help From My Friends", uma canção dos Beatles que o britânico interpretou com sua característica voz rouca no festival de Woodstock, em agosto de 1969.

Ringo Starr, ex-baterista dos "Fab Four", homenageou o compatriota com um post no microblog Twitter, onde escreveu: "Adeus e que Deus abençoe Joe Cocker é o desejo de um de seus amigos. Paz e amor".


O cantor britânico Joe Cocker durante um concerto em Nice, na França, no dia 6 de abril de 2013

Entre os maiores sucessos da carreira de Cocker estão "Night Calls" e "Up Where We Belong", um dueto com Jennifer Warnes, que fez parte da trilha sonora do filme "A Força do Destino" (1982). Também é famosa sua interpretação de "You Can Leave Your Hat On", tema principal do filme "Nove e meia semanas de amor" (1986)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Lembrai, lembrai o cinco de novembro

História de uma ressignificação: como Guy Fawkes, incendiário católico do século 17, converteu-se em personagem ambíguo de grandes mobilizações contemporâneas

Por João Carlos Correia / Outras Palavras


“Remember, remember, the fifth of November
The gunpowder, treason and plot;
I know of no reason, why the gunpowder treason
Should ever be forgot.”
(“Lembrai, lembrai, o cinco de novembro
A pólvora, a traição e o ardil;
por isso não vejo porque esquecer;
uma traição de pólvora tão vil”)

O século XVII era uma época de tensões religiosas na Europa. Os católicos ingleses estavam extremamente irritados pelo fato do rei Jaime I, da Inglaterra (também chamado de Jaime VI, da Escócia), não conceder a eles os mesmos direitos dos protestantes. Um grupo de católicos, liderados por Robert Catesby, decidiu, então, eliminar não só o rei como também aqueles que o apoiavam no Parlamento britânico. Acreditavam que, com isso, iniciariam um levante que faria o catolicismo ser novamente a religião predominante no país. O plano era explodir o local com 36 barris de pólvora durante uma sessão parlamentar, na qual o monarca estaria presente, no dia cinco de novembro de 1605. O responsável pela guarda da munição e sua detonação era um homem chamado Guy Fawkes, um especialista em explosivos. Porém, o plano foi descoberto e Fawkes, capturado, interrogado, torturado e, posteriormente, condenado à morte por enforcamento, sendo seu corpo esquartejado após a execução.
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Esse é um breve resumo da conjura que ficou conhecida como “A Conspiração da Pólvora” (The Gunpowder Plot). Desde então, em todo dia cinco de novembro, é celebrado na Grã-Bretanha e em países da comunidade britânica um feriado chamado de “Noite de Guy Fawkes”, (Guy Fawkes Night), ou “Noite da Fogueira” (Bonfire Night). Esse feriado foi instituído, a princípio, como uma festividade pela sobrevivência do rei, mas, com o passar do tempo, começaram a soltar de fogos de artifício e a acender grandes fogueiras nas quais são queimadas máscaras ou bonecos a representar Guy Fawkes em uma cerimônia de humilhação do conspirador semelhante à “malhação do Judas” que ocorre no Brasil durante os festejos da Semana Santa.

De alguns anos para cá, a imagem do cinco de novembro novamente mudou. De conspirador fracassado e humilhado, Fawkes passou a ser visto não só como “o único homem a entrar no Parlamento com intenções honestas” (segundo um dito popular local), mas também como símbolo de rebeldia e de anarquia. Essa mudança deve-se em grande parte à graphic novel “V for Vendetta” (“V de Vingança”, nos países de língua portuguesa), publicada originalmente em 1982, com texto do inglês Alan Moore e desenhos do também inglês David Lloyd, na qual o personagem principal, um anarquista chamado apenas V, usa uma máscara inspirada nas feições de Guy Fawkes, luta e organiza uma revolução contra um estado fascista totalitário que estabeleceu-se na Inglaterra. A obra, sucesso de público e crítica, foi adaptada para o cinema com igual êxito. A máscara de Fawkes popularizou-se e tornou-se um ícone de manifestações e protestos.

Entretanto, quem “turbinou” esse “new look” do cinco de novembro foi o grupo de hack-ativismo chamado Anonymous. Tendo justamente o anonimato como forma de ação e divulgação de seus ideais (liberdade política e de expressão, além de diversas causas sociais), o grupo “adotou” a máscara de Fawkes como seu “rosto” e organizou diversas manifestações ao redor do mundo por meio da internet e seus diversos canais disponíveis (YouTube, Facebook, Twitter etc.). Sua presença e influência puderam ser vistas e sentidas em manifestações tais como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street e em operações como a DarkNet, na qual derrubaram mais de 40 sites de pornografia infantil e publicaram mais de 1500 nomes de pessoas que frequentavam essas páginas. No Brasil, apoiaram e participaram das manifestações ocorridas no mês de junho de 2013 e vêm organizando outras tantas desde então, como, por exemplo, a Operação Sete de Setembro, ocorrida no dia da Independência. E as máscaras de Fawkes cobriam o rosto de milhares de manifestantes.

Nos últimos anos, o grupo organiza uma manifestação global em todo o dia cinco de novembro, que é tido agora, por alguns, como data mundial de resistência e rebelião contra a corrupção de governos, tirania e injustiças sociais. Essa manifestação ganha mais e mais adeptos cada vez que é realizada e a máscara de Guy Fawkes, claro, não pode faltar.

O fato é que o cinco de novembro e Guy Fawkes sintetizam o descontentamento geral que vem a ocorrer em todo o mundo nestes tempos sombrios de crise financeira internacional, espionagem e violência. As pessoas estão simplesmente cansadas do cotidiano que são obrigadas a encarar, seja viajar em um ônibus lotado ou a falta de liberdade e democracia ou a praga da corrupção política, e começam a reagir contra esta situação opressiva e a usar os meios que têm em mãos – que vão desde as manifestações em locais públicos até a internet, meio poderoso de divulgação e organização, que, aliás, foi subestimado por muitos políticos como, por exemplo, o ex-presidente Lula, que não acreditava na força da rede mundial de computadores – achava a televisão mais eficiente – até que as chamadas Revolta dos 20 Centavos e Revolta do Vinagre ocorreram e fizeram-no “quebrar a cara”.

Os governos sentiram o golpe. Tentaram e ainda tentam conter todo esse movimento usando a mídia conservadora (governamental e/ou particular) para criticar e desacreditar os manifestantes que, de uma maneira geral, têm o apoio da população. O modo favorito é usar os Black Blocs – para muitos o “lado negro da força” do movimento – e seus polêmicos e contestados métodos violentos de protesto, os quais destroem patrimônios públicos e particulares, para criminalizar os manifestantes chamando-os de “baderneiros” e “vândalos”. O outro modo é usar uma tática de terror utilizando as forças de segurança civis (polícia) ou militares (forças armadas). Todos ainda lembram-se da violência policial ocorrida nas manifestações brasileiras, que incluía o uso de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes e que também atingiu jornalistas que cobriam o evento. Em desespero, chegaram a proibir o uso de máscaras em manifestações – especialmente de nosso velho amigo Guy Fawkes…

Apesar dessa rude e dura reação por parte dos detentores do poder, as manifestações aumentam em um processo irreversível e o cinco de novembro é, cada vez mais, uma data para lembrar não de um atentado fracassado, mas de uma revolta contra um estado de coisas que não se pode mais suportar e do desejo de mudança de situações intoleráveis por meio da união de pessoas de todas as raças, cores, credos e orientação sexual. Uma data que ultrapassou todas as fronteiras e veio para ficar. Por tudo isso, lembrai e lembrai do cinco de novembro, com ou sem máscara de Guy Fawkes.

domingo, 21 de dezembro de 2014

A juventude tem cada vez menos pressa de sair de casa

Por J.J. Camargo / ZH

Se começar a vida é sair de casa, podemos dizer que a juventude deste começo de século, definida como a geração canguru, tem cada vez menos pressa. O que foi premência da geração anterior — ter um espaço só seu — passou a ser interrogado e, contraposto às perdas impostas por essa iniciativa desassombrada, resultou em: independência, a troco de quê?


Foto: Edu Oliveira / Arte ZH

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 61,7% da população brasileira entre 18 e 29 anos ainda mora com os pais. A motivação para a permanência é que eles aproveitem ao máximo as facilidades que o manto paterno lhes dá, para que juntem dinheiro e possam investir mais na profissão, seja ela qual for. Sem contar que alguns se encaminham para a maturidade sem uma escolha definida, o que parece justificar a permanência sob os olhares vigilantes dos que foram treinados até para suportar a indefinição.

Só mais tarde é que os rebentos alçam voo para fora do ninho. E, curiosamente, este mais tarde está ficando cada vez mais tarde. Tanto mais que alguns, os extremados, nunca saem, porque alguns pais, desanimados de vê-los partir, decidiram antes morrer, poupando-lhes até o incômodo de terem de mudar de CEP.

Com a redução gradual do número de filhos, o beliche virou peça de museu, e o inconveniente de ter de competir por espaço com os queridos irmãos praticamente despareceu. Sendo assim, aquele pretenso "cantinho só meu" deixou de ser uma imposição da autoestima que projetava a afirmação pessoal para representar uma tolice de quem não tem noção do quanto vale uma roupa lavada com amaciante perfumado e comidinha com tempero da mamãe. Coisa de babacas!

O respeito com que antes se falava de quem tinha pego seus trapos e saído pelo mundo passou a ser visto como birra de adolescente mimado, e qualquer referência ao gesto intempestivo desses ingratos era seguido do relato de vários exemplos desses tipos ingênuos que, depois de uma temporada de infortúnios, voltaram para o recanto do lar, com o rabo entre as pernas e um punhado de carnês atrasados na mão.

Todos os que voltam são unânimes em reconhecer que pagar luz, água e condomínio é insuportável, sem falar numa exigência execrável, que eles desconheciam até então, mas que os velhos cumprem com resmungos inaudíveis: pagar imposto. As rodinhas que debatem o destino desses aventureiros fraudados sempre terminam com um risinho que mal disfarça uma mensagem implícita: bem feito!

Por outro lado, aquela legião de adultos jovens que abandonava o ninho para casar descobriu, com a permissividade dos tempos modernos, que ninguém vai se escandalizar se o príncipe trouxer a cinderela para fazer companhia para a mamãe, sempre tão só, coitadinha. Claro que ninguém está interessado em perguntar o quanto a pretensa solidão desagrada a sogrinha.

E essa nova condição não é uma exclusividade brasileira: os jovens europeus entre os 18 e os 29 anos estão com dificuldade crescente de sair da casa dos pais. Segundo um estudo divulgado pelo European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions (Eurofound), há cada vez mais jovens sem capacidade de garantir sua autossustentação econômica.

Entre 2007 e 2011, o número de jovens adultos vivendo na casa dos pais, entre os 28 Estados-membros da União Europeia (UE), aumentou de 44% para 48%. À interminável crise econômica mundial, que limita o acesso dos jovens ao primeiro emprego em todo o mundo, soma-se a perda gradual da segurança nas nossas cidades.

Fácil perceber nas entrevistas com os pais a ambivalência que os consome: de um lado o desejo de vê-los voar com suas próprias asas. De outro, a certeza de que ninguém será capaz de protegê-los com tanto amor.

No fundo, todos os pais sabem que criamos os filhos para o mundo, mas esse precisava ter se tornado um lugar tão perigoso?

Então, filho amado, vá se divertir, mas, pelo amor de Deus, não ponha o celular no silencioso.

sábado, 20 de dezembro de 2014

A chance de a música clássica perder espaço é quase zero

Por Juarez Fonseca / ZH

Juarez Fonseca: "A chance de a música clássica perder espaço é quase zero" Divulgação/Divulgação
A Orquestra de Câmara da Ulbra está entre os grupos que apresentam espetáculos que incluem música popular Foto: Divulgação / Divulgação


O Concerto para Piano nº 2 de Chopin foi o escolhido por Nelson Freire para seu reencontro com a Ospa, terça-feira (16) passada. Quando o estreou, em 1830, o compositor polonês tinha 20 anos e ainda não havia concluído sua educação formal. É um dos concertos prediletos de Freire, que recentemente o gravou com a Gürzenich Orchestra de Colônia para a Deutsche Grammophon, gravadora mais antiga do mundo (criada em 1898), dona do maior catálogo internacional de música erudita. Já Nelson Freire tinha cinco anos quando fez seu primeiro recital de piano, em 1949, tocando Mozart. Por que anoto essas coisas? Porque quando se fala em música erudita se fala em tempo. E ainda há pessoas temerosas de que os "novos tempos" possam acabar com ela.

Dias atrás, Aury Hilário, médico e conhecido apreciador de música erudita, que edita o blog e informativo semanal Agenda Lírica de Porto Alegre (já são mais de 500 edições), se manifestou contra a frequência dos espetáculos de orquestras tocando música popular com ambientação sinfônica e o pouco espaço que a mídia, "inclusive a FM Cultura", dedica ao erudito. "Somos apenas 6% da população e temos a obrigação de lutar pelo que nos resta", escreveu. "Temos que reclamar quando assistimos à atual aproximação de nossas orquestras aos mais diversos gêneros da música popular. A razão apresentada é a tentativa de captar novos públicos. Mas temos todo o direito de duvidar da eficácia dessa estratégia".
O manifesto de Aury recebeu muitas adesões. Ele não citou nomes, mas acho que se referia, principalmente, aos já tradicionais projetos com música popular da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro e, em especial, da Orquestra de Câmara da Ulbra, que tem seus maiores públicos nos Concertos Dana, dedicados à MPB, à música regionalista gaúcha e ao... rock – no que reside, me parece, o maior "desgosto". Na verdade, esses espetáculos são episódicos, em média menos de uma vez por mês, quando regularmente as duas orquestras se apresentam com repertório e solistas eruditos. Que eu lembre, a Ospa e a Orquestra Unisinos Anchieta há muito não têm realizado apresentações com artistas populares.

Menciono apenas essas quatro orquestras de atividade regularíssima em Porto Alegre. Junto a elas, tenho que a cidade vive um momento de singular movimentação no que o compositor Armando Albuquerque, evitando rótulos, preferia chamar de "a música aquela". Há projetos e espaços novos como a Casa da Música, o Instituto Ling, a Pinacoteca Rubem Berta, a Sala Gerdau no Multipalco do TSP etc. O Auditorium Tasso Corrêa, do Instituto de Artes da UFRGS, está sempre em atividade – ainda mais nesta época, com apresentações quase diárias de final de curso revelando gente nova. Também o StudioClio é porto seguro para a música de concerto.

Dito isso, respeito mas não entendo a preocupação de Aury e de parte da "comunidade erudita" da Capital. Acho que poderiam ser menos corporativistas – em alguns casos até preconceituosos – e deixarem os maestrosAntônio Borges-Cunha e Tiago Flores trabalharem em paz. Quanto à preocupação com a "perda de espaço", posso lembrar, por exemplo, que Vivaldivem sendo tocado há mais de 300 anos. Bach, quase o mesmo. Mozart eBeethoven, ali perto. E o Chopin de Nelson Freire, desde 1830. Todos (e centenas de outros) gravados sem parar pela Deutsche Grammophon. A chance de a música erudita perder espaço para o rock, em Porto Alegre, é praticamente zero. Então, keep calm...

ANTENA

Ernesto Nazareth Ouro Sobre Azul
André Mehmari


Impressiona a produtividade de André Mehmari, lançando de dois a três álbuns por ano. E sempre trabalhos de alta qualidade, como este, criado em 2013 para homenagear os 150 anos de nascimento do genial "pianeiro", mas só agora saindo em disco. Ele diz que desde o útero ouvia sua mãe tocando Nazareth no piano de casa e que a importância do compositor carioca para a música brasileira equivale à de Villa-Lobos. Eu arrisco dizer que aqui está um Nazareth como nunca foi ouvido até hoje – em citações surpreendentes, Mehmari amplia seus horizontes, levando-o a passear com Stravinsky, Chopin, Luiz Gonzaga, Guinga... É um músico arrebatador. O repertório alinha valsas e tangos brasileiros como Famoso, Turbilhão de Beijos, Reboliço, Furinga, Pássaros em Festa, Odeon, todas em piano solo. Em outras três, tem a companhia de Neymar Dias no contrabaixo e Sérgio Reze na bateria. Estúdio Monteverdi/Tratore, R$ 25

Miniaturas Brasileiras
Raïff Dantas Barreto


É de Mehmari o empolgado texto que apresenta o novo disco do violoncelista paraibano radicado em São Paulo e tido como um dos principais nomes de seu instrumento na música erudita brasileira – entre outras atividades, Raïff é o primeiro violoncelo da Sinfônica Municipal de São Paulo. Ele selecionou peças de autores vivos e foi para o estúdio apenas com seus dois instrumentos, interpretando arranjos para violoncelo solo e para ensembles de violoncelo, ou seja: fez tudo sozinho. O resultado justifica a vibração de Mehmari. Os compositores são Edmundo Villani-Côrtes, Gustavo Tavares, Leandro Braga, Djalma Marques e o espanhol Gabriel Fiol. Duas faixas têm outros instrumentos: a suíte Na Sombra da Asa Branca, de Toninho Ferragutti, com seu acordeão, e o Prelúdio n° 3, de Villa-Lobos (único não contemporâneo), com Diogo Carvalho no violão e Luiz Guello na percussão. Aureus Records, R$ 25

16 Valsas para Fagote Solo
Fábio Cury


Reconhecido internacionalmente, o fagotista Fábio Cury atinge um dos pontos mais altos de sua carreira com esta gravação das valsas para fagote solo escritas em 1979 por Francisco Mignone (1897 – 1986). Tradicionalmente um instrumento de orquestra, é incomum ouvir-se o fagote atuando como solista, e Cury tem trabalhado cada vez mais nessa direção. Mesmo considerando a beleza das composições, o disco causa um estranhamento que só se dissipa após algumas audições, traduzindo a felicidade de Mignone em criá-las e o acerto de Cury em traduzi-las. Os títulos falam por si. Dois deles: Apanhei-te meu Fagotinho e Aquela Modinha que o Villa Não Escreveu. O encarte do CD tem textos sobre Mignone e comentários de todas as valsas, assim como sobre Cury, multifacetado músico paulista que estuda seu instrumento desde os 11 anos, se formou na Alemanha e é professor na USP. Selo Sesc SP, R$ 20

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Arte urbana - Criador dos adesivos de índio que estão nas ruas de Porto Alegre abre exposição

"Xadalu – Arqueologia do Presente" é a primeira mostra de Dione Martins em um espaço público, o Museu dos Direitos Humanos
Por Luiza Piffero / ZH
Criador dos adesivos de índio que estão nas ruas de Porto Alegre abre exposição nesta sexta Bruno Alencastro/Agencia RBS
Dione Martins, o Xadalu, tem trabalhado sem interrupção no seu ateliê Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS

Você já deve ter cruzado com o índio Xadalu. Em cartazes colados em tapumes ou adesivos atrás de placas de trânsito, o personagem passou de figura enigmática a rosto conhecido dos porto-alegrenses. A partir desta sexta-feira, também poderá ser visto entre quatro paredes. A convite do Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, seu criador, Dione Martins, inaugura a exposiçãoXadalu – Arqueologia do Presente.

Martins, que adotou Xadalu como pseudônimo, criou o índio há cerca de 10 anos. Depois de trabalhar como gari e pedreiro, estudou serigrafia e criou uma marca pessoal para espalhar pelas ruas. E faz questão de lembrar que o personagem não é apenas um rosto bonitinho:

– Os adesivos viraram um protesto contra a destruição da cultura indígena. Comecei a colocá-los nas ruas, como uma espécie de repovoamento.

Nos últimos anos, Xadalu enviou adesivos do índio por correio para artistas em mais de 60 países. Sua figura está colada até na Muralha da China. E o criador perdeu o controle sobre a criatura:

– Distribuo os adesivos, e as pessoas colam onde querem. O Xadalu já é quase domínio público – diz.

Xadalu dá passos cada vez maiores para dentro do circuito de arte. Tem no currículo uma mostra individual, três trabalhos no acervo do MAC-RS e um no Margs. Reitera, no entanto, a vontade de seguir com os mesmos materiais que usa na rua, desde o stencil até a tinta e a cola dos cartazes.

A mostra que abrirá amanhã é sua estreia em uma instituição pública. Com cerca de 35 trabalhos em técnicas e tamanhos diversos, será dividida: de um lado, índios grandes e coloridos apelam às crianças enquanto levantam bandeiras (uma máscara serve de protesto contra a poluição, uma roupa de esquimó lembra o aquecimento global e assim por diante); do outro, desenhos e gravuras enfocam questões políticas, históricas e contemporâneas.

Xadalu – Arqueologia do Presente
Abertura sexta-feira (19/12), às 19h.
Visitação de terça a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 12h às 17h. Até 31 de janeiro. Gratuito.
Museu dos Direitos Humanos do Mercosul (Sete de Setembro, 1.020, 2º andar), fone (51) 3227-0882.
A exposição: apresenta trabalhos em técnicas diversas do artista Xadalu, criador da figura do índio nas ruas da Capital.

Fique sabendo: A produtora Zeppelin Filmes está com dois documentários que envolvem Xadalu e devem ficar prontos em 2015: Sticker Connection, sobre arte em adesivo (sticker art), e Xadalu, que narra a vida do artista.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Passeio na serra - Daer regulamenta linha turística na serra gaúcha

Os veículos, que passam por 32 pontos turísticos entre Gramado e Canela, operam de forma experimental há um ano

Por ZH


Daer regulamenta linha turística na serra gaúcha  Divulgação/Divulgação
Os ônibus de turismo permitem os passageiros subir e descer nos pontos turísticos Foto: Divulgação / Divulgação

Mais um passo para aprimorar o turismo na serra gaúcha foi dado esta semana. O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) aprovou através do Conselho de Tráfego da autarquia, a resolução que regulamenta o primeiro transporte coletivo turístico da serra gaúcha.

Em operação de forma experimental desde novembro de 2013, BusTour — que realiza passeios por Gramado e Canela — agora recebeu o aval para continuar operando nas duas rotas que passam por 32 pontos turísticos da região.

A aprovação desta resolução também abre a possibilidade para outras empresas oferecerem o serviço. Se interessadas, devem apresentar os projetos para análise junto à Secretaria de Turismo (Setur) e, caso aprovados, serão registrados e fiscalizados pelo departamento.

Conforme o diretor de Transportes Rodoviários do Daer, o engenheiro Paulo Ricardo Campos Velho, algumas empresas já manifestaram interesse em implementar o sistema em diferentes regiões do Estado:

— Os ônibus de turismo que permitem os passageiros subir e descer nos pontos turísticos são inéditos nos Estado, e estão trazendo resultados satisfatórios. Com essa resolução, optamos por fazer um regramento que não interferisse no transporte público coletivo, e esperamos que se expanda para outras regiões do Rio Grande do Sul.
Atualmente, quatro veículos da rede BusTour circulam entre Gramado e Canela. Conforme a assessoria da empresa, a média de passageiros pagantes é de 3 mil por mês (baixa temporada) e 5 mil por mês (alta temporada).

Com o slogan "Vista de cima a Serra é mais bonita", os veículos que circulam pela serra gaúcha seguem os moldes de ônibus turísticos das principais cidades do mundo, como Londres, Barcelona e Nova York. Os ônibus realizam duas rotas distintas, passando pelos principais pontos turísticos da região e funcionam com o sistema hop on / hop off (com livre embarque e desembarque).

Desta forma, os turistas podem optar por descer nos pontos de interesse, e permanecer o tempo que quiserem em cada ponto, conforme os horários disponíveis. Entre as paradas mais populares, estão a Snowland, Lago Negro e Mini Mundo (Gramado). Alpen Park, Terra Mágica Florybal, Cascata do Caracol e Bondinhos Aéreos (Canela). Utilizando o transporte turístico, o passageiro ganha descontos de até 60% nas bilheterias dos atrativos.

Serviço
Horário de funcionamento: todos os dias, exceto terças-feiras, das 8h15min às 18h30min
Valor: R$ 49 para um dia, R$ 89 para dois dias e R$ 119 para três dias. Há descontos progressivos para dois ou três dias.
Os tickets para o BusTour podem ser adquiridos das seguintes formas:
- Na Brocker Turismo de Canela e de Gramado
- Pelos e-mails: vendas@bustour.com.br ou bustour@bustour.com.br
- Disque BusTour: (54) 3286-7777
- Nos ônibus BusTour e na recepção dos hotéis de Canela e Gramado.

O ônibus dispõe de sistema de áudio em três idiomas: português, inglês e espanhol.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Zen e bem - Yoga pode proteger contra doenças do coração, aponta estudo

Prática pode ser alternativa para aqueles que não podem ou preferem não realizar exercícios aeróbicos tradicionais
 

Por ZH



Foto: Body Green / reprodução

Praticar ioga pode ajudar no controle e na diminuição dos fatores de risco associados às doenças cardiovasculares. É o que concluiu uma pesquisa feita na Holanda e nos Estados Unidos.

Os cientistas realizaram um revisão de 37 estudos, que abrangeram 2.768 pessoas, e constataram que o yoga pode proporcionar os mesmos benefícis para a redução de fatores de riscos que atividades físicas tradicionais como andar de bicicleta ou fazer caminhadas mais aceleradas.

A prática de yoga tem sido apontada em vários estudos como eficaz para diminuir os riscos de ataques cardíacos e derrames. Segundo os pesquisadores, essa revisão pode fornecer uma estimativa mais realista dessa eficácia, quando comparada aos exercícios mais tradicionais.

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Em comparação com aqueles que não fazem exercício, a yoga foi associada a uma redução no índice de massa corporal (IMC) e na pressão arterial sistólica. Além disso, houve também redução do mau colesterol e aumento do bom. Entretanto, não foram encontradas melhorias em questões relacionadas a diabetes.

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Ainda não se sabe porque o yoga traz esses benefícios. Para os pesquisadores, eles podem estar relacionados ao impacto da prática na redução do estresse, que leva a efeitos positivos no organismo, por exemplo.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Está na mente Sentir-se mais jovem prolonga a vida, diz estudo

Pessoas que se sentem três ou quatro anos mais jovens registraram taxa de mortalidade menor
 

Por ZH

Foto: Carol Garbiano / freeimages

As pessoas que se sentem três ou quatro anos mais jovens do que são registram uma taxa de mortalidade menor que as que se veem mais velhas, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira.

Os pesquisadores analisaram os dados provenientes de um relatório sobre envelhecimento de 6.498 pessoas de uma média de 65,8 anos.

A maioria (69,6%) se sentia três ou quatro anos mais jovem do que era, enquanto 25,6% tinham o sentimento de ter sua idade real, e 4,8% tinham a impressão de ter ao menos um ano a mais.

Durante um período de 99 meses, a taxa de mortalidade foi de 14,3% entre os que se sentiam mais jovens, 18,5% entre os que sentiam que tinham a idade cronológica exata e 24,6% entre os participantes que se encaravam como mais velhos, relatou o estudo, publicado na revista médica americana JAMA Internal Medicine.

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A percepção que as pessoas têm de sua idade pode refletir seu estado de saúde, seus limites físicos e seu bem-estar, destacaram os cientistas.

*AFP/ZH

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Gibiteca Henfil

Localizada nas dependências do Centro Cultural São Paulo, a Gibiteca reúne um acervo de mais de 10 mil títulos, entre álbuns de quadrinhos, gibis, periódicos e livros sobre HQ. A criançada também pode participar de uma série de atividades promovidas no local, como oficinas, palestras, exposições, exibição de filmes e jogos. A maior instituição do gênero no país contabiliza 119.124 exemplares de publicações tanto de artistas internacionais – a exemplo de Katsuhiro Otomo (Akira), Robert Crumb (America, Blues), Art Spiegelman (Maus)- quanto de artistas nacionais. Coleções e coletâneas como Calvin e Haroldo (de Bill Watterson), Mafalda (de Quino) e Tintim (de Hergé) também estão marcam presença as prateleiras da seção, que fica na Biblioteca Sérgio Milet. A entrada é permitida até 30 minutos antes de seu fechamento.

Quando: Permanente
Horário: Terça a Sexta, das 10h às 20h / Sábado, Domingo e Feriados (exceto Carnaval e Páscoa), das 10h às 18h.
Preço: Gratuito
Classificação: Livre
Local: Biblioteca Sergio Milet – Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso.
Informações: (11) 3397-4090 / http://www.centrocultural.sp.gov.br

domingo, 14 de dezembro de 2014

Homens preferem livros escritos por... homens

Sexo masculino representa 90% dos títulos mais lidos por eles; escritoras têm espaço menor na crítica literária
Redação TV Cultura
Livros
A maioria das pessoas no Reino Unido preferem ler livros de autores de seu próprio gênero e tendem a ler bem menos daqueles escritos pelo sexo oposto. De acordo com o estudo do site de leitura Goodreads, autores do sexo masculino representaram 90% dos 50 títulos mais lidos pelos homens neste ano.
As leitoras também preferem obras escritas por outras mulheres. Em média, quatro de cada cinco livros lidos por elas foram escritos por uma.
Feita com 40 mil pessoas, a pesquisa surgiu após estatísticas americanas recentes que mostraram que há um grande desequilíbrio no número de mulheres que tiveram suas obras criticadas por especialistas, ou que produziram resenhas sobre obras literárias.
Os pesquisadores também descobriram que homens e mulheres tendem a ler o mesmo número de livros, mas que elas preferem os lançamentos.
"Alguns homens disseram que autores homens escrevem mais o tipo de livros que eles gostam de ler. Notamos também que a maioria das pessoas não têm conhecimento da classificação por gênero do livro que está lendo. Certamente parece uma área inexplorada que pode ser explorada", disse Elizabeth Chandler Khuri, editora-chefe e cofundadora da Goodreads.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Casos de Aids em mulheres de 13 a 19 anos supera ocorrências em homens, alerta estudo

Em pesquisa divulgada nesta sexta-feira, organizações de defesa da mulher pedem políticas de prevenção específicas às adolescentes
 

Por Fernanda da Costa / ZH
Casos de Aids em mulheres de 13 a 19 anos supera ocorrências em homens, alerta estudo Jean Pimentel/Agencia RBS
Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS

Embora casos de Aids sejam mais notificados em homens no país, há uma faixa etária em que o vírus tem sido mais incidente em mulheres: dos 13 aos 19 anos. A vulnerabilidade das adolescentes brasileiras preocupa organizações feministas, que pedem políticas de prevenção específicas.
O alerta foi publicado em um relatório de monitoramento da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Cedaw, na sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta sexta-feira. A publicação contou com a participação de 13 movimentos que lutam pelos direitos das mulheres no país.

O estudo mostrou que, entre 2008 e 2011, o índice de novos casos do vírus só foi maior em mulheres do que homens na faixa etária dos 13 aos 19 anos, e por isso o alerta para a necessidade de estratégias de prevenção específicas. Outro dado destacado no estudo foi que 96% dos casos de Aids em mulheres registrados em 2012 foram transmitidos por via sexual — ou seja, sexo desprotegido.

A pesquisa também afirma que há uma clara associação entre o sexo não consentido com a infecção pelo vírus. Mulheres vítimas de estupro enfrentam um risco 50% maior de serem contaminadas pelo HIV, conforme o estudo. Por isso, organizações de defesa das mulheres pedem que o governo produza dados que incluam a violência sexual em seus levantamentos sobre Aids.
O relatório de monitoramento da Cedaw também alerta para o aumento da incidência de sífilis no país. A pesquisa informa que a prevalência da doença em mulheres em trabalho de parto ou pós-parto é quatro vezes maior que a da infecção pelo HIV, devido ao “pré-natal de baixa qualidade e deficiência na formação médica”.

Taxa de mortalidade envolvendo HIV no RS é o dobro da nacional
Cedaw completa 35 anos no mundo e 12 no Brasil

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher completa 35 anos em 2014, mas apenas em 2002 o país ratificou a legislação. Foi apenas a partir dessa ratificação que o governo se comprometeu a atender as recomendações da ONU e enviar relatórios periódicos à organização sobre suas políticas públicas de atenção às mulheres.
O relatório divulgado nesta sexta-feira contém as respostas do governo às recomendações da Cedaw, a análise de 13 organizações de defesa da mulher sobre as ações voltadas ao gênero e artigos sobre direitos das mulheres. Divulgada em Porto Alegre, a publicação é o segundo volume escrito pelo projeto de monitoramento da convenção.

As organizações que produziram o estudo foram: Coletivo Feminino Plural; Comitê da América Latina e do Caribe para os Direitos da Mulher (Cladem/Brasil); Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero (NIEM/UFRGS); Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras; Associação Casa da Mulher Catarina; Comissão de Cidadania e Reprodução; ECOS Comunicação em Sexualidade; Gestos - Soropositividade, Comunicação e Gênero; Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade Saudável/CO; Instituto Mulher pela Ação Integral à Saúde e Direitos Humanos (IMAIS); Plataforma DHESCA Brasil e THEMIS Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Pessoas que dormem tarde tendem a ser mais pessimistas, diz pesquisa

De acordo com o estudo, comportamento também está relacionado a poucas horas de sono

Por ZH
Foto: Filip Schneider / stock.xchng

Ir dormir depois da 1 hora da manhã e dormir menos de seis horas e meia por noite pode tornar você mais pessimista. É o que aponta um estudo da Universidade Binghamton, nos Estados Unidos, que também descobriu que pessoas com esse perfil têm mais risco de desenvolver doenças psiquiátricas como a depressão e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

Dormir pouco ou muito pode afetar o intestino

A pesquisa, publicada recentemente na revista científica Cognitive Therapy and Research, teve a participação de 100 pessoas com idade média de 20 anos. Todas foram submetidas a um questionário que avaliava o quanto cada uma era preocupada, pensativa ou obsessiva, características do pensamento pessimista. Elas também foram perguntadas se preferiam ficar acordadas de manhã ou à noite e se dormiam em horários regulares ou tarde da noite.

Cinco razões para você dormir mais

O estudo considerou como pessimistas aquelas pessoas que têm, por exemplo, pensamentos rotineiros sobre experiências irritantes que se repetem e que são persistentes, além daquelas que se preocupam muito sobre o futuro e são apegadas ao passado.

Sono interrompido pode ser tão prejudicial quanto uma noite sem dormir

Os pesquisadores perceberam que as pessoas que dormiam menos de seis horas e meia por noite e costumavam ir dormir depois da 1 da manhã tinham experiência recorrentes de pensamentos negativos e pessimistas.

Dormir bem após estudar favorece o aprendizado

— Se novas descobertas sustentarem a relação entre o tempo de sono e o pensamento negativo repetitivo, pode-se criar um novo tratamento para pessoas com esses transtornos — diz a coautora do estudo Meredith Coles.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O Brasil pós-Trabalho de 'Brincante'

Ao filmar o genial Antônio Nóbrega, Walter Carvalho extrapola o documentário para captar, em tom de fábula, atualidade rebelde do lúdico

Por José Geraldo Couto / Outras Palavras


Um dos mais lamentáveis subprodutos da polarização exacerbada das últimas eleições no Brasil foi o reavivamento de um odioso e burro preconceito contra o Nordeste e seu povo. Brincante, de Walter Carvalho, é o melhor antídoto a essa estupidez. Pois boa parte da riqueza e diversidade da cultura nordestina encontra-se ali, condensada e catalisada na figura de um artista ímpar, o músico, dançarino, coreógrafo, cantor, compositor, ator e malabarista pernambucano Antônio Nóbrega.

Não se trata propriamente de um documentário, no sentido convencional do termo, mas de uma viagem poética pelo universo de Nóbrega, tendo como eixo a trajetória de seu personagem mais emblemático, o picaresco Tonheta.
A narrativa, heterogênea e episódica, acompanha peripécias de Tonheta – quase sempre contracenando com Rosane Almeida, parceira artística e amorosa de Nóbrega – e, paralelamente, o deslocamento geográfico do casal, dos confins do sertão até a grande metrópole, São Paulo.
Fábula e documento

O tom de fábula, em que a linguagem dramatúrgica e visual é a do circo, ou antes a do tradicional teatro de mamulengo, alterna-se com o registro mais propriamente documental de ensaios e apresentações de rua dos espetáculos de Nóbrega. São vasos comunicantes, que se completam e se transfundem.

É nas ruas de São Paulo que o filme, a meu ver, ganha seu pleno sentido, diz a que veio, marca uma posição estética e política. Ao invadir com sua trupe lugares como o Minhocão, o vão livre do Masp, vagões e plataformas do metrô, o parque Trianon ou os fervilhantes calçadões do centro velho, Nóbrega efetua uma ressignificação dos espaços, fazendo imperar por um momento no reino do trabalho e do automóvel o homo ludens. (Não por acaso, o livro de Johan Huizinga com esse título aparece brevemente nas mãos do artista.)

Pois não se trata de “preservar manifestações folclóricas” como se fossem peças de museu ou de turismo, mas de captar sua potência e infundir sua vitalidade no presente e no futuro. Para isso é preciso criar, transformar, dialogar com outras referências. Com Nóbrega e seus parceiros-discípulos, o frevo, o maracatu, o samba de roda, a capoeira e o forró aparecem transfigurados e estilizados como dança moderna e universal. A raiz em comunicação com o cosmo, o regional com o planetário.

Contraste e estranhamento

Senhores absolutos do enquadramento e da luz, Walter Carvalho e seu diretor de fotografia Jacques Cheuiche usam sua arte para potencializar a arte de Antônio Nóbrega, sem sobrepor-se a ela, sem “perfumar a flor”, como diria João Cabral de Melo Neto. O mesmo se pode dizer da cenografia e dos figurinos.

As cores exuberantes, o forte contraste, a luz noturna irreal das cenas de Tonheta estão em perfeito acordo com o tom fabular da narrativa, bem como, no outro extremo, o monocromatismo da extraordinária sequência de dança em que homens nascem dramaticamente da terra sob os acordes pungentes da Bachiana nº 4 de Villa-Lobos. Se a arquitetura niemeyeriana do Auditório Ibirapuera é abstrata, asséptica e bicromática (branca e vermelha), os dançarinos que a invadem vestem-se com roupas prosaicas e cotidianas de texturas e cores diversas. Há sempre um elemento de contraste e estranhamento, uma faísca de inquietação.

Num filme repleto de momentos luminosos, em que a decupagem e a montagem realçam a vibração poética de Nóbrega, talvez o mais antológico e significativo seja aquele em que o artista, caminhando e dançando na contramão de um mar de gente numa rua do centro paulistano, canta os versos de sua canção “Chegança”, em que um índio, ao ser surpreendido em sua rede pelos homens armados de uma esquadra portuguesa, levanta-se de borduna na mão e diz: “O Brasil vai começar”. Está começando até agora.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A nova derrota da publicidade infantil

Ao virarem tema da redação do Enem, práticas que estimulam consumismo tornam-se vulneráveis ao que fatalmente as derrota: crítica e consciência.

Por Laís Fontenelle


Crise Hídrica. Eleições. 50 anos do Golpe Militar. Copa do Mundo e Olimpíadas. Quem pensou nesses temas para a prova nacional do ensino médio errou. Publicidade Infantil em questão no Brasil – esse foi o bem escolhido tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que aconteceu dia 9 de novembro, levando mais de 8 milhões de jovens de nosso vasto país a refletir, ao mesmo tempo, sobre esse tema urgente e importante.

O fato veio coroar uma longa caminhada de pais, acadêmicos, ativistas, educadores e organizações como o Instituto Alana, Movimento Infância Livre de Consumismo (MILC) e a mais recente Rebrinc (Rede Brasileira Infância e Consumo), que lutam pela defesa dos direitos das crianças frente aos apelos, abusivos, de consumo do mercado. Mas, vale lembrar que essa não foi a única data a se comemorar no mês de novembro, pois no dia 20 a Convenção dos Direitos das Crianças e Adolescentes da ONU completou 25 anos, marcando a conquista de uma doutrina de proteção integral às crianças, em 1989.

E já que estamos falando de datas, quero relembrar o 12 de Outubro de 2007, data convencionalmente tida como das crianças, quando tive meu primeiro artigo sobre publicidade infantil, intitulado “Que infância estamos construindo?”, publicado no Caderno Opinião da Folha de S.Paulo começando a pautar o tema, ainda não tão polêmico e conhecido, na agenda do país. No texto relembrei jingles publicitários como“Não esqueça minha Caloi”, “Compre batom”, “Danoninho vale mais do que um bifinho”para levar a sociedade civil a refletir sobre os impactos da publicidade na formação subjetiva das crianças, seres em peculiar estágio de desenvolvimento emocional e cognitivo e, portanto, mais vulneráveis que nós adultos aos apelos mercadológicos.

Desde a publicação desse artigo, muitas discussões acaloradas aconteceram em torno do tema. Foram inúmeras audiências e polêmicas públicas envolvendo a regulamentação da publicidade dirigida às crianças e sobre o consumismo na infância em diferentes espaços como universidades, mídias, escolas e até governo. As opiniões sempre estiveram divididas e polarizadas entre o mercado, que considera ser dever somente da família fixar os limites para assegurar o bem-estar dos pequenos – e aqueles que entendem ser prioridade absoluta, compartilhada pela família, sociedade e Estado (conforme previsto no artigo 227 da Constituição) a responsabilidade pela integridade das crianças.

Temos hoje, sem dúvida, muito a comemorar. A começar pela promulgação, em abril, da resolução 163 do Conanda (Conselho Nacional dos Diretos das Crianças e Adolescentes), esclarecendo o que já estava previsto no artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor: “a prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço é abusiva e, portanto, ilegal”. Foi uma conquista histórica para os direitos da criança no Brasil, já que a publicidade infantil não tinha então limites claros e específicos.

Ver o tema da publicidade infantil estampado na prova do Enem e depois nas mídias e redes sociais em larga escala demonstrou mais um grande avanço, principalmente porque convidou os jovens – futuros pais e profissionais, até então ausentes no debate – a debruçar-se de forma autoral sobre o tema. E se a questão surpreendeu e não estava na ‘ponta da língua’ daqueles que se submeteram ao exame, ela por certo alcançou mais professores do ensino médio, sensibilizou as famílias dos candidatos e teve sua discussão ampliada na sociedade. Ponto para equipe do MEC responsável pela escolha do tema.

Apesar desses avanços, assistimos a um aumento exponencial dos meios e das mensagens que levam o apelo do consumo às crianças. Hoje não basta desligar a TV para resguardá-las da publicidade. A comunicação mercadológica saiu da telinha e ganhou as ruas, os muros, o meio da programação infantil e até as escolas, para atingir diretamente as crianças. Parques e áreas públicas de grandes centros urbanos vêm sendo ocupados por eventos cujo único objetivo é vender. Ou seja, empresas estão invadindo espaços públicos, disfarçadas de patrocinadoras e “promotoras de eventos” – muitos dos quais criados exclusivamente para expor uma marca e atrair atenção de crianças. E não estamos falando de um evento cultural gratuito, que precisa de patrocínio para acontecer. Trata-se de algo criado, no suposto formato de “entretenimento”, para atrair a atenção do público infantil.

Esse mesmo tipo de invasão mercadológica tem acontecido também em escolas, com impactos ainda mais graves na formação das crianças – por cauda do respaldo institucional. Isso, além de estar em desacordo com a nota técnica que o MEC soltou depois da resolução do Conanda e também com a opinião de 56% da população, que desaprova publicidade em escolas (pesquisa Datafolha de 2011). Escola deveria ser um lugar de formação de valores e exercício de cidadania, assim como segundo espaço de socialização das crianças, depois da família – e não local de venda. É preciso ainda mencionar a avalanche de merchandisings na programação infantil da TV e também em teatros – extremamente prejudicial, já que a maioria das crianças de até 8 anos confunde a programação com publicidade, segundo pesquisa de 2003 da Interscience.

Sabemos que a publicidade é a alma do negócio na sociedade de consumo, já que estimula as compras, aquece a produção, gera empregos e renda e é considerada relevante no processo de desenvolvimento econômico do país. Entretanto, nenhum tipo de desenvolvimento, seja ele econômico, tecnológico ou científico, deveria ser mais importante que o desenvolvimento psicológico, emocional e cognitivo de uma criança. Os impactos sociais, ambientais e econômicos da publicidade dirigida às crianças – como a formação de hábitos consumistas, o aumento da obesidade infantil, o estresse familiar, o incremento da violência urbana, a erotização precoce, entre outros – merecem nossa atenção.

As crianças serão, obviamente, em função do tempo em que vivemos, consumidoras no futuro. Logo, além de terem o direito de ser protegidas legalmente da comunicação mercadológica que lhes é dirigida, precisam ser preparadas para que sejam consumidoras conscientes e responsáveis. Isso é feito com Educação, ferramenta no processo maior de transformação social. E, para tanto, o tema da publicidade infantil e do consumismo deve entrar de fato na agenda da Educação e não somente como um tema esporádico e surpreendente na redação do Enem.

A ação conjunta nas frentes da Educação e da Regulação precisa ganhar força. Todos os agentes sociais, e aí se incluem família, Estado, educadores e mercado, têm a responsabilidade compartilhada de transformar a realidade e ditar novos paradigmas para nossas crianças. Crianças não precisam de publicidade para aprender a consumir de forma consciente. Crianças precisam brincar, precisam de olhar, palavra, escuta e proteção. Crianças precisam ser protegidas em sua infância – fase essencial na formação de hábitos saudáveis.

Nesse mês de aniversário de 25 anos de promulgação da Convenção Internacional de Direitos de Crianças e Adolescentes da ONU, convido-os não somente à reflexão “autoral”, como os jovens no Enem, mas à ação. Para entrar mais a fundo no debate e envolver-se nessas questões venha fazer parte da Rebrinc (Rede Brasileira sobre Infância e Consumo) , uma rede aberta, horizontal e colaborativa que tem como missão: “Sensibilizar, Mobilizar e Articular Pessoas e Organizações para a Promoção e a Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes frente ao Consumismo e às relações com o Consumo”. Não deixemos que o tema saia da pauta!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Paul McCartney é um holograma em seu novo videoclipe

Música é parte da trilha sonora do game 'Destiny', lançado em setembro

Por Marilia Fredini, do Cmais+

Sir Paul McCartney, aos 72 anos, surpreendeu a plateia em sua recente passagem pelo Brasil comandando shows com mais de 3 horas de duração sem perder o fôlego, e nem a majestade. Efeitos visuais sofisticados aliavam dois gigantes paineis de LED ao lado do palco, com recursos de iluminação e pirotecnia, que fizeram o palco "explodir" diversas vezes durante a performance de "Live and Let Die", entre outros momentos antológicos.
Gravação do clipe
Isso foi apenas uma amostra em terras brasileiras da produção do ex-Beatle ao longo deste ano. Seu show em Candlesitck Park, em agosto, foi transformado em uma experiência de realidade virtual, a partir de uma gravação em 360º da performance, usando recursos 3D em vídeo e em aúdio. Através do aplicativo Android lançado em 5 de dezembro, os fãs podem assistir à mesma "Live and Let Die" sob diversos pontos de vista: da plateia, do palco e até mesmo do backstage.

A música "Hope for the future" é mais uma amostra de que Sir Paul está afeito às inovações tecnológicas. Composta especialmente para o game em primeira pessoa 'Destiny', lançado em setembro, a música vem agora em quatro versões remixadas e acompanhada de um videoclipe em que o músico aparece como um holograma, inserido dentro do ambiente futurista do game.

Apesar de feita sob encomenda para o jogo, "Hope for the future" fala a todos. "Eu pensei que essa não é apenas uma música de videogame, ela será tocada independente do jogo. Então ela tem que se sustentar sozinha também; você não pode ter referências à aliens ou as pessoas iriam pensar "O que ele está falando?". Então (a música) teria que ter seu próprio significado e integridade".Palavras de Sir Paul McCartney.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Mais de 80 mil pessoas passaram pela primeira Comic Con Experience no Brasil

Próxima feira de cultura pop acontece entre 3 e 6 de dezembro de 2015

Por Cmais+
comic conTerminou no domingo (7) a Comic Con Experience, evento de cultura geek/nerd, somando um público de mais de 80 mil pessoas. O número exato não foi divulgado pela assessoria do evento, apenas a média dos quatro dias.
A feira de cultura pop teve mais de 70 expositores, 218 quadrinistas nacionais e internacionais, pré-estreias de filmes e séries, lançamentos de livros, painéis com artistas internacionais e conteúdo exclusivo.
Veja também:
“Nosso objetivo é mostrar para o público e para as empresas que temos condições de ter um mercado profissional de cultura pop. Sempre fomos fãs dos eventos similares de outros países e queríamos que o Brasil tivesse a sua comic con. Conseguimos. O evento foi um sucesso”, declarou Pierre Mantovani, sócio da CCXP durante a cerimônia de encerramento no auditório principal da CCXP.
A próxima e segunda edição da Comic Con Experience já tem data confirmada para 2015: será entre 3 e 6 de dezembro.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Sem impostos, não se redistribui riqueza

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A partir do dia do nascimento, cada criança recebe um subsídio mensal do governo no valor de 1.050 coroas suecas (aproximadamente 355 reais). A educação é gratuito e de acesso universal.
Jornalista brasileira residente na Suécia narra vida num país em que tributos são reconhecidos com preço justo por uma sociedade mais igualitária e humana
Por Claudia Wallin*, no DCM
Em sueco, a palavra ”skatt” tem dois significados, que no juízo apressado de um forasteiro podem parecer conceitos tão distantes entre si como o céu e o inferno: ”impostos” e ”tesouro”.
Mas como qualquer espantado alienígena constata ao chegar à Suécia, o termo ”impostos” tem por aqui uma conotação visceralmente positiva. Na lógica da maioria dos suecos, assim como dos demais povos da Escandinávia, os tributos são o preço justo que se paga por uma sociedade mais humana, igualitária e harmônica – e por isso menos violenta. Mesmo quando se cobra, como é o caso escandinavo, um dos impostos mais elevados do planeta.
O pensamento escandinavo é uma esfinge de enigma quase indecifrável para muitos povos. A começar pelos seguidores do credo americano de que, quanto mais baixos os impostos, melhor.
Claudia Wallin é autora do livro Um País sem Excelências e Mordomias, clique aqui e compre o livro com desconto em nossa livraria
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Mas a primeira explicação é elementar: paga-se impostos de bom grado por aqui, dizem os suecos, porque as coisas funcionam. E funcionam bem. O sistema de saúde pública proporciona atendimento de qualidade a todos, independentemente da renda de cada um. A educação, gratuita e de alto nível, garante oportunidades iguais de acesso de todos os cidadãos ao ensino, do pré-escolar à universidade. As cidades são limpas. Os transportes públicos são organizados e eficientes – e em nenhuma estrada da Suécia paga-se pedágio. A lista é longa.
A segunda explicação do enigma requer um esforço de compreensão do sentimento de humanidade e solidariedade que molda o pensamento escandinavo.
”Tenho orgulho de pagar impostos”, resume Robert Windahl, o Robben, popular garçom do pub local que frequento em Estocolmo. É uma frase que se ouve com frequência anormal no país. Robben explica: ”Se você tem uma criança com alguma doença grave, ou se não ganha um salário particularmente alto, você pode se sentir seguro na Suécia. Se fosse nos Estados Unidos, você estaria perdido. Mas acreditamos que, em nossa sociedade, todos têm direito a uma vida digna.”
É uma carga tributária alta demais para cumprir esse ideal? – pergunto. Atualmente, a carga tributária na Suécia é de cerca de 45% do Produto Interno Bruto (PIB), contra cerca de 36%, no caso do Brasil.
”Certamente não”, ele diz. ”E todos se beneficiam do sistema, que é universal. Ou seja, os mais ricos pagam mais impostos, mas também não precisam pagar para que seus filhos estudem até à universidade, por exemplo. E se eu mesmo resolver ser médico, posso começar a estudar amanhã, sem gastar uma krona (coroa sueca)”.
”É verdade que pagamos um dos impostos mais altos do mundo”, continua ele. ”Mas como mostram várias pesquisas, os escandinavos estão sempre no alto da lista dos povos mais felizes do mundo”, lembra Robben, que paga 40% de seus vencimentos ao fisco.
Na Suécia, a origem do desenvolvimento do welfare state (Estado de bem-estar social), financiado pelos altos impostos, foi marcada por uma expressão cunhada por Per Albin Hansson, o legendário primeiro-ministro social-democrata: Folkhemmet, ou ”Lar do Povo”. A expressão tornou-se o símbolo da visão de sociedade da social-democracia sueca: as pessoas deveriam sentir-se tão seguras na sociedade como se sentiam no interior de seus próprios lares.
”Um bom lar não tem membros privilegiados ou rejeitados; não tem favoritos nem filhos postiços. Nele, uma pessoa não olha para a outra com desdém; nele, ninguém tenta obter vantagens às custas do outro; nele, o forte não oprime nem rouba o fraco. Em um bom lar existe igualdade”, disse Hansson, em 1932, no Parlamento sueco. O conceito foi o embrião do famoso modelo social sueco, que iria se tornar um exemplo para o mundo.
De lá para cá, o Estado-providência sueco tem sofrido ajustes. Crises econômicas sacudiram o paraíso, que continua no entanto vigorosamente próspero, e novos desafios se impõem diante do modelo e seu futuro. Como observaram os consultores do Boston Consulting Group em conferência recente aqui em Estocolmo, o envelhecimento populacional na Suécia é uma das ameaças que pairam sobre o modelo: daqui a cerca de 15 anos, estima-se, cada cidadão sueco estará trabalhando para financiar, com seus impostos, um conterrâneo aposentado.
Apesar dos ajustes, até o momento o welfare state sueco permanece generoso, embora menos generoso do que já foi. E apesar das vozes discordantes, cerca de 75 por cento dos suecos estariam na verdade dispostos a pagar impostos ainda mais altos para manter a sociedade justa, próspera e eficiente que criaram – segundo pesquisa realizada em 2010 pelo sociólogo sueco Stefan Svallfors.
Sim: testemunhei cenas sobrenaturais nos últimos anos, quando vi um sem-número de cidadãos suecos reclamando, nos jornais e noticiários de TV, a cada vez que o governo de centro-direita – despachado do poder nas eleições de setembro deste ano – anunciava um pequeno corte nos impostos.
”A redução de impostos significa que eu passo a ter 600 coroas (cerca de 200 reais) a mais no bolso”, disse na TV sueca, na época, um dos cidadãos entrevistados. ”Para mim, que já ganho um bom salário, essa quantia extra não faz tanta diferença. Mas faz uma diferença enorme para a sociedade, e por isso acho que esse dinheiro seria melhor empregado para garantir a qualidade das nossas escolas, hospitais e serviços em geral”.
Nas ruas de Estocolmo, voltei a ouvir a mesma argumentação: baixar os impostos, no entender de grande parte dos cidadãos, faz por exemplo uma diferença brutal para o nível de qualidade da educação, que impulsiona a prosperidade do país. Põe em risco a essência igualitária da sociedade sueca, e aumenta a distância entre ricos e pobres. Menospreza a dignidade da vida dos excluídos, dos doentes, dos desesperados.
Por isso, também parece sobrenatural imaginar um país onde os partidos políticos fazem campanha eleitoral prometendo aumentar, e não baixar, os impostos. Mas assim é a realidade sueca: qualquer analista político americano ficaria perplexo ao saber, por exemplo, que a própria coalizão de governo de centro-direita sueca foi às urnas, este ano, defendendo uma alta nos impostos:
”É bom termos impostos, para que tenhamos segurança social, educação e saúde”, disse na TV sueca o então ministro das Finanças, Anders Borg. É certo que nem tudo é unanimidade no reino dos suecos, quando o assunto são os altos impostos. Muitos são os que apóiam o receituário aplicado nos recém-encerrados oito anos de poder da centro-direita, que defende a implementação de ajustes necessários, na sua visão, para criar um modelo sueco renovado diante dos desafios dos novos tempos.
Mas a recente queda nos índices de desempenho escolar, assim como outros problemas na estrutura do modelo social, renovaram, segundo pesquisas recentes, o ânimo dos suecos para pagar índices elevados de impostos. Emblemática é a frase estampada esta semana na coluna política do jornal Aftonbladet – a mesma frase que se lê originalmente, aliás, em uma inscrição no prédio da Receita Federal americana (IRS) em Washington: ”Impostos são o preço que se paga por uma sociedade civilizada.”
Os impostos sobre herança foram abolidos na Suécia em 2004, como medida destinada a proteger empresas e empregos na esteira da crise econômica dos anos 90 – quase a metade dos empresários que geravam até 60% dos novos empregos no país estava acima dos 50 anos de idade, na época. E a taxação sobre fortunas foi cancelada em 2007, a fim de evitar a saída de empreendedores do país.
A estrutura tributária progressiva, porém, é desenhada para uma melhor distribuição de renda: quem ganha muito mais, paga muito mais impostos.
As taxas municipais variam entre 29 e 36 por cento da renda de um indivíduo, dependendo do local em que a pessoa vive. Além disso, para os que ganham acima de 35,5 mil coroas suecas mensais – que é o salário médio de um professor universitário, por exemplo -, impostos estatais entre 20 e 25 por cento são cobrados a partir de determinados níveis de rendimento. A carga tributária é aumentada ainda pelo imposto sobre valor agregado, uma taxa de 25% que incide sobre a compra de alimentos e a maioria dos produtos e serviços em geral.
Em contrapartida, todos têm direito a uma ampla rede de proteção, do berço ao túmulo.
Quando uma criança nasce na Suécia, os pais têm direito a uma licença parental remunerada de 480 dias. As creches pré-escolares são largamente subsidiadas pelo governo, e os pais pagam apenas oito por cento do custo mensal.
A partir do dia do nascimento, cada criança recebe um subsídio mensal do governo no valor de 1.050 coroas suecas (aproximadamente 355 reais).
Após completar 16 anos de idade, cada criança passa a receber um subsídio mensal do governo no mesmo valor, como assistência financeira enquanto completa seu período de estudos.
O tratamento dentário é gratuito para crianças e adolescentes até os 18 anos de idade. Eles também podem ter aparelhos dentários financiados pelo governo regional: quando os especialistas julgam necessária a correção dos dentes, o paciente recebe um ”cheque saúde dos dentes” para custear os gastos com o ortodontista de sua escolha.
Quando as crianças têm problemas graves de visão, também é o governo regional que paga os óculos de grau. Para famílias com situação econômica mais desfavorável, os pais de crianças com deficiências de visão mais comuns podem contactar os serviços sociais, que então financiam os óculos.
Não existem mensalidades escolares. A partir dos seis anos de idade, todas as crianças têm acesso gratuito à educação, que é obrigatória até o último ano do ensino médio. As escolas fornecem ainda todo o material escolar.
Se decidem cursar a universidade – que também é gratuita – os estudantes suecos têm direito a uma assistência financeira mensal, até completar os estudos. Esta assistência é composta por um subsídio de cerca de mil reais por mês, além de um empréstimo no valor aproximado de 2,3 mil reais mensais. O prazo para o reembolso do empréstimo é o dia em que o ex-estudante completa 60 anos de idade.
O sistema de saúde é também amplamente subsidiado, e a taxa de internação em um hospital é de 80 coroas suecas (cerca de 27 reais) por dia.
Já o seguro-desemprego é voluntário – ou seja, o trabalhador deve se inscrever em instituições específicas para ter direito ao benefício, e pagar uma mensalidade. Estas instituições são conhecidas como ”A-Kassa” (Arbetslöshetskassor), e muitas são administradas por sindicatos. No pacote básico, a mensalidade é de 90 coroas suecas mensais (cerca de 13 dólares). Para poder usufruir de um salário-desemprego maior do que o básico, o trabalhador deve fazer um seguro suplementar, com contribuições mensais proporcionais ao salário. Quando perde o emprego, um trabalhador pode receber o salário-desemprego por até 300 dias úteis.
Para famílias mais pobres ou com problemas econômicos temporários, os governos municipais prestam assistência sob a forma de apoio financeiro com base em avaliações individuais. Este apoio inclui recursos para despesas básicas, com a finalidade de garantir um padrão de vida razoável.
Como um todo, é um sistema que mantém alta credibilidade: em 2013, uma pesquisa apontou que 86% dos suecos confiam no Skatteverket, a autoridade fiscal sueca.
”As pessoas confiam no fato de que o Estado, os políticos e a administração pública vão empregar o dinheiro de seus impostos de maneira eficiente”, diz o jornalista e historiador Henrik Berggren. ”Em segundo lugar, a questão da igualdade social é extremamente importante na Suécia”, observa ele.
Mas como o ser humano é o mesmo, e fraudadores de impostos em potencial germinam em todas as latitudes quando o clima é propício, a Suécia tem um poderoso e eficiente sistema para evitar a sonegação fiscal.
Descuidos ou más intenções, como informações errôneas e deduções inválidas na declaração de renda, costumam ser punidos com multas de 40% sobre o valor do imposto a ser pago – ou, para casos extremos, com o xadrez.
Não se brinca com as garras do sempre atento leão sueco, que parece ter mil olhos.
* A jornalista brasileira Claudia Wallin, radicada em Estocolmo, é autora do livro Um país sem excelências e mordomias.