terça-feira, 2 de setembro de 2014

Religião, política e polêmica abrem a 31ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo

Artistas expressam com sensibilidade, temas discutidos mundialmente
por Thiago Carvalho / Cmais+

A 31ª edição da Bienal de Artes de São Paulo, que começa a partir do dia 7 de setembro e vai até o dia 9 de dezembro, abriu as portas na manhã desta segunda-feira para a imprensa e convidados, contando com a presença do curador geral da exposição Charles Esche, do presidente da Bienal, Luis Terepins, diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda edo diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.

ÉDER OLIVEIRA

A edição deste ano, intitulada “Como (...) coisas que não existem”, dá espaço ao público para interagir individualmente ou coletivamente completando o que, neste contexto politizado, está em falta. Para os organizadores, a proposta da Bienal deste ano é analisar maneiras de gerar reflexão confrontando aquilo que não foi resolvido. Em contraponto ao título da exposição, “as coisas que não existem” estão muito bem representadas nas obras de diversos artistas, cujas obras exprimem os conflitos gerados pela desigualdade social, diferenças religiosas e posições políticas que moldam não só a sociedade mas a própria produção artística.

Antes mesmo de começar, um assunto polêmico já chamava a atenção dos organizadores da Bienal, que temiam um boicote por parte de alguns expositores árabes ao evento. Cerca de 40 artistas de origem árabe e alguns de seusapoiadores, não concordaram com o patrocínio do Estado de Israel e exigiram a retirada da identidade visual do consulado israelensedo catálogo da mostra, por contado recente conflito na Faixa de Gaza.

Já do lado de dentro do pavilhão, obras que contestam e confrontam a religião, como a do artista peruano Miguel A. Lopez ‘Dios e Maricas’, registra corpos andrógenos e relações eróticas diante de imagens religiosas representadas, ou ainda a obra do brasileiro Thiago Martins de Melo, “Martírio”, um cenário com caboclos do vodum – religião africana com adeptos de São Luís do Maranhão, terra natal do artista.

No âmbito político, a dupla de bolivianas María Galindo e Ester Argollo, pela segunda vez na Bienal e primeira com a obra “Mujeres Creando”, discutem a legalização do aborto, em defesa das mulheres latino-americanas, com uma obra que será construída durante a Bienal. No dia 6 de setembro, as artistas convidam as mulheres brasileiras a marchar pelo Parque do Ibirapuera, entrando em um tubo, representação do útero, e relatar seu aborto. Para Maria Galindo, a discussão sobre o aborto não é de propriedade dos presidentes, médicos e advogados, mas das próprias mulheres.

Outra artista que enfocou uma temática politica em sua obra foi a brasileira Ana Lira de Recife, com a inédita “Voto!”, uma série de cartazes de candidatos políticos da cidade de Recife, deteriorados pelo tempo e pela própria manifestação da população. O país tem passado por grandes transformações politicas, principalmente com a intervenção da população, e com esta obra Ana afirma que “as relações políticas estão desgastadas e nós, implicados a estes desgastes. E para construir coisas novas, a gente precisa intervir”.

A proposta desta edição Bienal acende os holofotes para alguns dos assuntos mais discutidos atualmente, como era de se esperar dada a própria história do evento, mas a partir de uma abordagem muito mais provocadora e polêmica, em que os organizadores propõem, a partir da interação do público, trazer “estas coisas que não existem” à vida, essas “coisas” que artistas e público já sabem que existem, mas vivem nas sombras.

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